Ele possuía autoridade moral do silencio. Seu porte altivo era todo contido e movia-se pouco. Quando fazia, era como se estivesse procurando uma direção a seguir; então, encaminhava-se diretamente, sem desvio, ao seu objetivo.
O cabelo era castanho escuro, muito fino e brilhoso, as orelhas pequenas. Os olhos tinham o brilho único e místico. Pareciam estudar todos os mistérios da vida: profundos, serenos, ele se fixavam nas pessoas como se fosse os olhos da consciência, e ninguém os agüentava por muito tempo, tal o seu olhar sedutor, o seu brilho intenso. Seus olhos se movimentavam de um modo inquietante expectativa.
Os lábios, para fora bem definidos, eram perfeitos e em harmonia com o contorno do rosto, de movimentos ligeiramente salientes. O nariz, de chamar a atenção dando um contorno no seu rosto. Mas possuía narinas que se delatavam nos raros momentos de raiva.
Sua voz soava grave e profunda. Quando irritado, emergia rascante, em estranha autoridade, que possuía algo natural que infundia respeito. Tinha um pequeno defeito de dicção: arrastava nos erros por causa da língua pressa.
Suas mãos era um milagre de elegância. Muito móvel, evolucionava no ar ou contornava os objetos com prazer. Na sala, extrovertido e decidido, parecia suprir a deficiência de tocar alguém para lembrar que ele esta lá, com seu corpo ereto, parecia deixá-lo mais elegante.
Cumprimentava às vezes com a mão esquerda. Talvez por timidez, tímido de constranger as pessoas, dirigia-se a elas com economia de gestos. As suas letras eram quase impossíveis de identificá-las. Assinava com bastante dificuldade, mas utilizava ambas as mãos para digitar.
Era masculino, mais tinha uns jeitos de feminilidade, exigia e se exigia boas maneiras. Bem cuidado nas suas vestis, vaidoso, mas sem satisfação.
A cor de sua pele, um pouco escura, aumentava a obliqüidade e fazia ressaltar o castanho claro dos seus olhos. Indiscutivelmente era homem interessante, de traços nobres e talvez, inatingíveis.
Quanto aos seus sentimentos, completamente bloqueado, como se fosse um trauma ou medo de enfrentar, ou ainda falta de experiência.
Ambicionava viver numa voragem de felicidade, como se fosse sonho. Teimoso, acreditava porem, na vida de todos os dias. Defini-lo é difícil. Contra a noção do mito, de intelectual, coloco aqui a minha visão dele: era um cara extrovertido que vivia uma ótima vida, sem vergonha e sem medo da boca do povo.
Sabia o quanto doíam às coisas e o quanto custava a solidão.
São muitos os mistérios que aos olhos de alguns o transformaram em mito. Simplesmente, porém, em Manuel não parecia qualquer mistério. Ele descobria intuitivamente o mistério da vida e do ser humano; em compensação, era capaz de ocultar seu próprio mistério.