Guerra, poder dos incapazes

Queria poder falar das coisas boas da vida
motivos pra isso não me faltariam.
Como falar sobre vida onde a morte reina absoluta?
Como a falar verdade se apenas ouvimos mentiras?
Como falar de amor onde o ódio é abundante?
Como falar de paz, se cada dia surge novas guerras?
Guerra é resultado da falta de amor.
É insana, vil, absurda.
Se o ódio avança causando morte e destruição
é porque falta o amor.
E como falar de alegria em meio a dor,
da paz diante do terror,
de bonança se a tempestade ainda não acabou?
A morte acompanha a vida.
O mal sempre persegue o bem.
A guerra é a busca pela paz,
mas paz não é a ausência de guerra.
Outro dia um cabeludo falou:
não importam os motivos da guerra,
a paz é muito mais importante do que ela.
Falamos de paz mas vivemos em guerra,
guerra pela sobrevivência, pela nossa independência,
do não à violência, guerra de consciência,
guerra que não satisfaz, que mata o incapaz.
Há guerra que tanto faz, parece não ser conosco,
gente morrendo de desgosto
diante de um sonho que se desfaz.
Guerra que não mata gente,
guerra de conflitos interiores, guerra sem vencidos
e sem vencedores, só perdedores.
Onde enterramos os mortos,
mas não depositamos flores.
Guerra dos horrores, sem heróis,
sem amores, guerra de dores.
Destroem-se vidas, matam-se genitores,
derrubam-se casa com seus tratores.
Tudo pela paz, sem paz.
Ninguém é capaz de por fim a matança,
ao choro de mães por suas crianças.
Enquanto uns desperdiçam alimento,
o Haiti morre de fome.
Guerra por um prato. Guerra do tráfico.
Guerra infame.
Comando vermelho derramando sangue inocente.
Bem e mal, bem ao lado, pobres coitados.
Filhos de deputados sobem o morro camuflados,
disfarçados, filhos bastardos.
Tiram o sono da gente. Gente feliz é gente inocente.
Bem e o mal procede da mesma raiz, o conhecimento.
Entendemos de tudo, mas falta o principal,
o relacionamento, por isso, sobra sofrimento.
Não queria falar de guerra, mas não vejo outra saída.
Guerra que ceifa a vida e abafa o amor.
Onde está o amor, proclamado aos quatro cantos?
Queremos paz de espírito, mas resolvemos tudo aos gritos.
Não percebemos que somos o território
dos nossos próprios conflitos.
Somos cegos, não vemos os atritos.
Ouvimos a voz do silêncio,
mas não ouvimos os gritos silenciosos dos filhos.
Somos surdos, não escutamos os corações dos contritos.
Vemos algumas lágrimas mas não sabemos entendê-las,
pode ser de alguém arrependido.
Algo que me alegra também me entristece.
Gente com saúde é quem adoece.
O sorriso vira pranto quando a saudade aparece.
O real e o imaginável caminham lado a lado.
Posso não estar errado,
mas sei que não estou sempre certo.
As vezes me sinto humilde em outras arrogante,
as vezes me sinto sábio e em outras ignorante.
Queria falar sempre a verdade,
mas as vezes me pego mentindo.
Queria ser verdadeiro e as vezes me pego fingindo.
As vezes sou delicado mas outras sou atrevido.
Queria ser sempre sincero para não viver de aparência.
Queria fazer tudo certo para ter paz na consciência.
Queria um mundo perfeito, sem dor, sem violência,
mas nada é como eu quero.
Queria ser forte não para vencer alguém, mas para ajudar.
Chego a conclusão que o bem e mal residem dentro de nós.
O bem em minha mente, o mal em meu corpo.
Quero fazer o bem, mas o mal guerreia em meus membros
lutando com toda força e em muitas ocasiões ele prevalece.
O querer fazer o bem está em mim, porém, não o realizar.
Até isso me leva a guerrear comigo.
Guerra de palavras, guerra de pensamento,
do desentendimento, a guerra nossa de cada momento
gerando desculpas e arrependimentos.
Guerra de explicações, guerras de emoções,
de facções, guerras aos montões, tudo em busca da paz.
Guerra é guerra, poder dos incapazes...

Zeca Moreira
© Todos os direitos reservados