Cidade pequenina
Onde o Rio da Esperança passava
E com ele meus dias
De suor ganhava.

Em minha simples canoa
Atravessando pra lá e pra cá
Todo tipo de gente
Que na ponte caída não pode passar.

Um dia uma empregada
E também um fazendeiro
Meu serviço elogiava
Com admiração e cautelo.

No outro um advogado
Que me observando perguntou
-Conhece alguma lei?
De cabeça baixa respondi:

-Não senhor.

Sem esperar nem um minuto
Fez questão de me dizer
Que metade da vida tinha perdido
Por as leis não conhecer.

Junto dele uma professora
Se aproximando perguntou:
-Sabe ler ou escrever?
Resposta simples me soou:

-Não senhora,
-Sou um pobre pescador.

Disse olhando superiormente
Sem ao menos lamentar
Que perdi mais da metade da vida
Por no lápis não saber pegar.

No meio do rio
Estávamos a passar
Com ar tenso e vulgar
Sem mais nada a esperar.

De repente um inesperado furo
Deixando a água entrar rapidamente
A canoa vai afundar...
O que fazer agora, minha gente?

Olhando ambos com humildade
E tremenda preocupação
Tive de perguntar
Se sabiam nadar naquela imensidão

Simplesmente responderam:
-Não.

Com muita tristeza e dor
Os olhando intensamente,
Disse a eles que por não saberem nadar
A vida perderiam completamente.

Christiane Priscila
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