Prosa sincera

                            

  Não sou poeta... Deus me guarde de assim, sem modéstia me definir.Os poetas são seres mágicos que fazem dos seus pensamentos, pérolas esparsas soltas pelo ar, que mortais sábios recolhem.Tenho, sim, palavras inquietas, que gostam da rua, de tirar a roupa,andar a esmo. Que são minhas, que são tuas, que são nuas. Solto-as apenas.Palavras que querem levar ao vento o que penso, o que acho, o que sinto.
   Não importa se em forma de prosa, de verso, ou totalmente disformes,sem ênclise ou mesóclise. Meus rabiscos não usam espartilhos.Não têm métrica,nem estética,muito menos plástica. Apenas mostram meus sonhos cheirando a guardado de tanto esperar.
   Meus sentimentos são claustrofóbicos não os posso prender, sufocá-los em meu peito...Não seria tão egoísta.O que tenho são recordações amarelecidas pelo tempo, guardadas em velhas caixas de tristeza,envoltas em laços desfeitos pela vida e que se querem ir. Saudades mofadas em velhos baús, esperanças rotas...
   Liberto-as, jogo-as ao vento, se se lambuzam de tinta e caem sobre o papel, que culpa tenho eu? Se seguem tortas por curvas sinuosas, que posso fazer?
   Não digam por aí que me chamo de poeta. Não o sou. Apenas não posso ser guardiã de amores, represa de rancores.Não; Rompo diques, destampo caixas, derrubo muros, quebro cercas, Não serei clausura de dores. Se calam minha voz, meus pensamentos gritam. Tornam-se papiros,pergaminhos,papel de pão, guardanapo de bar ,sei lá o quê. 
   Dou carta de alforria a sentimentos cativos, presos no peito. E deixem que me chamem de imodesta. Deixem que digam, que falem, que pensem o que pensem, o que digam, o que falem...
    Não sou e não serei poeta. Nunca me ocorreu. Se o mundo não se fez ouvinte meu, tenho papel como confidente, tinta como companheira de viajem numa estrada dura,labirinto  feito de nanquim, que o tempo não apaga, não torna mais plana,não constrói atalhos,não mostra o norte,não transpõe barreiras, não recolhe pedras. Eu o faço, quando dou liberdade a mim mesma,de dar asas a essa minha palavras boêmias que não sossegam, que me agarram a barra da saia,que choram e gritam em meus ouvidos que não se podem fazer moucos. Ao meu coração,que apesar de tudo ainda pulsa, sente e ouve o clamor de paixões escravizadas, que, libertando-se, me libertam. Mais uma vez,para  que nunca se esqueçam:Nunca fui, não sou e nem serei poeta!