Queria escrever um poema
que não falasse de amor
para terminar com dor
no meio do corredor
queria escrever um poema
sem herois gregos
sem métrica e sem
mais nenhum apego
as araras, caras da mãe d'água
mas só vejo alguns cães de guarda
pessoas passando na calçada
não tenho florestas para descrever
pentâmetros iâmbicos, trocaicos, arcaicos
que eu não sei ler
línguas mortas, cores, bordas, flores tortas
não vou entender
conheço as silhuetas dos gatos
as folhas no telhado, os passos
dos sem-teto jogados em versos
errados, não dá pra escrever
será que ninguém se importa
com o que está na frente da porta?
São Paulo SP
Philidel
© Todos os direitos reservados
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