Voo Noturno


Aves noturnas que flutuam como barcos a vela.
Manto escuro bordado com os brilhos prateados.
Cume ou abismo celestial? Acima ou abaixo?
Grande ouvido a escutar as confissões terrenas.
 
 Fragmentos de brisa fria e o calor dos hálitos.
 Alma que às vezes quer ser, outras, desaparecer.
 Individualidade perdida em meio ao Todo.
 Realidade que brinca em meio às ilusões do ser.
 
 Dentre tantos delírios, o maior e mais intenso,
 O mundo real e seus pesadelos fingidos de sonhos.
 Nos estilhaços de antigas dores, a mágoa afogada.
 Exaustas as leves ironias, hão de vir duros sarcasmos.
 
 Nuvens intrusas, pois que não foram convidadas.
 Nuvens que se fazem véus que ocultam a lua.
 E nesse mistério, luz noviça desafia a treva mortificada.
 As sombras abandonam a passividade para serem vida.
 
 Algo lembra este céu. Talvez o olhar feminino,
 Em sua alquimia que promete céus e cumpre infernos,
 No seu desejo que faz temer infernos, mas leva aos céus.
 Ponte entre o profano e o místico, portal da transcendência.
 
 Eva da eternidade, uma ave desgarrada cruza o céu.
 E nas nuvens jazem velhos fantasmas, velhas lendas.
 Olhares terrenos chocam-se com visões celestes.
 E o céu perde-se da noite. E a noite foge do céu.