Subitamente sopra um vendaval
e lhe arde os olhos
tornando-os quase cegos e vermelhos.

Tempestade imprevisível de sentimentos
que desanda o franzino corpo
e desarruma os sensatos conselhos.

Em acelerado ritmo
figuram as paisagens,
mas, de repente, tudo serena.

E o ser já se encontra dividido:
de um lado a ilusão de ser eterna cara-metade;
d’outro, o medo de ficar só.

No palco da vida assomam-se ininterruptas cenas,
desta estação em flores.
Pois, fragranciosa, voltou a primavera.

E com ela, as manhãs perfumadas
embriagam os cordões de chuva
que se perdem na pintura da calçadas.

À tardinha, passos na fagueira sala
enquanto os corações alados nos céus.
O telefonema e o olor e a aba

dos parnasianos chapéus;
acessórios das noites de gala
ornam beldades, outrora, tão claras!

O raciocínio e o espírito são cais
onde mornas águas dos mares,
ora banzeiros, ora bravios,
dissolvem-se no parapeito da gente.

- Os destinos têm rotas à moda dos navios -.

Assim são os homens das prosas:
vastos que nem os serrados de minas.
Assim são as mulheres das rosas:
profundas que nem lagoas sulinas.

Curitiba, 19/10/2005