Minha Nega


 


Eu tinha uma neguinha

 


Que raro se arranja

 



Gostinho de canja


 

Corzinha morena,

 


São dessas pretinhas

 


Pendida à mulata

 


Que a morte, mata

 


Mas fica com pena.


 

 


Eu também tinha pena,

 


De deixá-lasozinha

 


Falei pra vizinha

 


Mulher do vizinho

 


Que deixa-se seu guarda

 


Ficar de apoio

 


Mas ficou de olho 

 


Em meu tiçãozinho.


 

 


Mas a noite eu venho

 


do trampo pesado


abatido e cansado

 


com ansas de amor 

 


ao chegar em casa

 
não vi minha nega


gritei muito chega 

 


ela não chegou


 

 


ai foi quando falou,

 


a minha vizinha

 


com uma rizadinha

 


gesto de anarquia

 


dizendo com graça

 


fazendo pantinho

 


o teu tiçãozinho

 


fugiu com o vigia.

 


Se alguém pó ai


 


Encontrar uma nega

 


Bonita e faceira

 


De um jeito alinhado

 


Cheirinho de preta

 
Bonequinha linda


Verdinha ainda


Do cabelo embolado.

 

 

 


O corpo desenhado

 


De um cavaquinho

 


O Rosto pretinho

 


Pele tostadinha.

 


Qualquer que achar

 


Segure e não solta 

 


Me traga de volta

 


Que é minha neguinha,

 


 

 


Minha nega é

 


Bonita e charmosa

 


Frutinha gostosa

 


Meu doce tesão

 


Meu jantar de gala,

 


Suco de maçã,

 


Meu café da manhã,

 


Minha manteiga, meu pão.


 

 


Eu que sempre passava

 


Manteiga no pão,

 


Mas passaram o pão,

 


na minha  manteiga,

 


manteiga derretida

 


é fácil de comer, 

 


eu só quero saber
 


aonde foi minha nega.

 

 

 

 

 

O que mas me revolta

 

 


É que todos sabiam

 


Que assim que eu saia

 


Ela se levantava.

 


Ia lá pra fora,

 


Mexer com o vigia

 


o que os dois faziam 

 


o povo me falava,


 

 


eu não acreditava

 


de tanta conversa

 


depois de uma dessa

 


acabei de crer

 


que homem casar-se

 


com nega alinhada

é comprar tabuada

 


pro o outro aprender. 

Eule Silva Ferreira
© Todos os direitos reservados