CHUVA DE MALDADE

Lá fora, no mundão, chove pingos de maldade,
E em casa eu permaneço pra não me encharcar nessa realidade.
Todo dia a mesma coisa...
Na rua procuro abrigo pra me esconder,
Enquanto homens chegam em casa, de roupa molhada,
querendo bater.

Na audiência, pinga a tal gravata do advogado,
Que defende o bandido assassino pra curtir sua família no sábado.
Políticos sorriem e fazem festa com nosso "ex-dinheiro":
Deslizam-se na grama molhada, em suas fazendas, encharcam o corpo inteiro.
E lá na faculdade, o burguês vai pra aula com o importado alagado,
e discrimina o negro e o pobre que guardam a chuva de ódio calados.
Estuprador acha lindas as gotas que escorrem no cabelo da menina,
e nessas gotas ele se perde, molha suas partes e se fascina.

E é de todas essas tempestades que procuro fugir:
Debaixo do abrigo, de guarda-maldade, em casa sem sair...
Porém, um dia, de surpresa, a alma é ensopada pela chuva de maldade,
e eu só quero uma toalha por perto pra não me resfriar por toda eternidade.

Por questões pessoais, como o fato de que agora sou pai e o tempo encurtou um pouco, ando meio que ausente, mas esse texto mostra que não será fácil me fazer abandonar as palavras.
Um abração.
Rogerio dos Santos Rufino
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