A neblina arrebenta sua fluidez nas pedras cinzentas do grande muro

 
contorna com sabedoria as arestas desgastadas, outrora firmes
o orvalho divide-se na cor com a geada matinal, o frio tão triste
lanterna, sugira o caminho desta neblina que vaga no bosque frio
seja a melhor anfitriã do vento que vem de mar lá abaixo

 
sua imensidão cobre o mato seco que permeia a muito sem vida
neblina, névoa densa, véu do mar, fantasma do litoral
cala a fanfarra do vento alegre que já fora a tempos passados
transforme o ambiente do seu caminho até esta construção quieta
o bosque por onde passas admira-te em sua condição suprema
purifique o ar com o silêncio que carrega das pedras do farol de longe
avante com louvor para além da copa dos eucaliptos, além dos morros
vá até os túneis onde os espíritos renegados choram a perda da alegria
dê uma razão para vagarem em busca do seu fim previsto
seja a inspiração do pianista mascarado, seu tema omnipotente de solidão
acaricie o cabelo solto da dama de lilás cruzando a ponte das luzes
fantasie os olhos da criança mimada e desiludida nos terraços do vale
traga inocência às terríveis assombrações da cidade ao leste e cale-as
nos fortaleça com o cheiro amargo do sal do oceano
tal oceano, que fora palco de passagens surreais das embarcações de ilusões
dos dragões no alto, das aeronaves cruzadoras, dos metálicos seres submarinos
varrendo a maldade humana da superfície, seja nossa baixa atmosfera

nossa deusa, minha névoa amada, nunca deixe de vir
em todas as manhãs frias...

 

Alex Martines
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