A Construção-(crônica/crítica)
 
Na beira da estrada, entre duas cidades do interior paulista teve inicio uma gigantesca construção. Acompanhei desde o principio, a demarcação, a terraplenagem, passo sempre naquela via com destino à cidade de Ribeirão Preto, e pensei, sem me informar, o que será que vão construir nesse terreno? A curiosidade está incutida em nós desde que despertamos a consciência e comigo não foi diferente, fiquei deveras curioso para saber do que se tratava. Seria uma nova área de lazer, tão comum nessa região? Para não estragar a surpresa preferi ficar alheio a comentários sobre o canteiro de obras que foi instalado no local, porem o suspense que eu projetara foi desfeito rapidamente, seria um presídio. Quando recebi a informação não me contive, minha pressão arterial alterou-se imediatamente, o coração parecia estar na garganta, meu Deus, uma penitenciária, justamente numa área onde a natureza transpira liberdade, onde as plantações de cana de açúcar, soja, milho, algodão e outras mais, alem de matas naturais que abrigam diversas espécies de animais são cultivadas e preservadas, porque ali? Infelizmente o ser humano já nasce prisioneiro, vive em liberdade condicional na infância e ao atingir a idade adulta libera os vícios e preconceitos que estavam incubados no subconsciente em forma de violência, culminando muitas vezes em desfechos irreversíveis, que o conduz de volta ao cárcere, agora em forma de presídio. A insidiosa construção ganha forma, uma vibração insólita desfigura a característica tranqüila do lugar, não há como evitar, em breve, a paisagem será transformada e a tensão fará parte do cotidiano, já imagino o barulho de sirenes, alarmes de tentativas de fugas, rebeliões, helicópteros sobrevoando à procura de delinqüentes foragidos, enfim, a violência se expandindo de forma assustadora por conta do comportamento inoperante do Estado em relação a seus cidadãos. Se paga uma enormidade de impostos em todos os setores e os recursos recebidos são desviados para fins ilícitos. E o mais engraçado é que mesmo com provas concretas dos “desvios de conduta” de muitos parlamentares, eles jamais conhecerão o lado de dentro dessa construção nefasta porque desfrutam de imunidade. Não sou hipócrita e por isso penso que investimentos dessa natureza é dinheiro que se joga fora, que poderia e deveria ser direcionado para fins mais nobres, como a saúde e a educação, porem compreendo que o grau de sabedoria que possuímos atualmente não nos permite nem ao menos escolher pessoas de caráter para administrar as contas públicas, em resumo, também temos nossa parcela de culpa. A vida segue...
 
Pedro Martins
30/03/2011             
 
 

Pedrinho Poeta - Pitangueiras-SP-
© Todos os direitos reservados