A GOROROBA-(conto)-

A GOROROBA
 
                        Hora do almoço, o estomago reclamava de forma escandalosa parecendo uma escola de samba, porem, minha esposa, havia uma semana prestava socorro a sua mãe (sogra-argh) que por “infelicidade” estava acamada com depressão, meu sogro falecera há poucos meses e a saudade do velho prejudicou o “esqueleto” já alquebrado da “velha” fazendo com que nossa rotina mudasse drasticamente, em resumo, eu estava passando fome por falta de cozinheira. Por alguns dias tentei aqueles marmitex que são vendidos em qualquer esquina hoje em dia, a preços razoáveis, mas não me adaptei aos “temperos exuberantes” nem tampouco à qualidade de determinados “pratos” que vem naqueles “pacotes” de alumínio e olha que me esforcei, mas, não dava mais, eu precisava fazer alguma coisa, buscar minha esposa e obrigá-la a cozinhar seria difícil, afinal de contas ela era filha única e precisava cuidar da mãe-(sogra-argh-argh), meu orgulho besta me impedia de ir comer na casa da “velha”, não tínhamos um bom relacionamento. Trazer ela para minha casa então, nem pensar, só me restava uma alternativa, cozinhar, era isso que eu iria fazer a partir daquele dia, pelo menos foi o que pensei. Empolguei-me, fui às compras e logo tinha uma variedade de mantimentos para elaborar um almoço inesquecível. Equipei-me com um avental da “patroa”, devido ao calor, trajava somente uma cueca e fui à luta, não seria difícil cozinhar, pensei, vou preparar primeiro o arroz e enquanto ele seca vou adiantando as outras “iguarias”. E assim foi. Tudo correndo bem, o arroz já estava quase seco, eu já havia cortado legumes, uns pedaços de carne, lingüiça, bacon, alem de abrir uma lata de milho, uma de ervilhas e uma de sardinha (nota: quem quiser pode copiar a receita), quando o telefone tocou. Fui atender sem desligar o fogo pensando que seria coisa rápida. Não me enganei, era da Companhia de Gás, do outro lado da linha uma voz gravada avisava que meu gás encanado seria cortado dentro de dez minutos, pois a conta já estava três meses atrasada. Excomunguei a voz eletrônica, desliguei o telefone e corri para a cozinha. O arroz já ia começar a queimar, quando tive a brilhante idéia de aproveitar os nove minutos de gás que ainda me restavam. Peguei todos os ingredientes que havia picado, joguei dentro da panela, acrescentei uma xícara de água, dois ovos, dei uma pequena mexida, tapei e fiquei esperando o resultado do “aglomerado culinário” (nome científico para gororoba). Quatrocentos e oitenta segundos depois, puff, o gás acabou, mas como a panela ainda estava quente, nem me atrevi a abrir a tampa, pensei, vou esperar esfriar e comer do jeito que estiver, e assim fiz, comi tudo, os legumes até que cozinharam, mas o bacon, a lingüiça e a carne pareciam borracha, nem liguei, eu estava mesmo faminto e para ajudar na digestão tomei dois litros de refrigerante. Após o repasto, deitei-me no sofá da sala, mesmo porque não consegui caminhar até o quarto e relaxei, por pouco tempo, os “efeitos” da “gororoba” foram quase imediatos. O anuncio da tragédia começou pelos “gases sonoros” e “aromáticos” em quantidade assustadora e hilária ao mesmo tempo, era bufa e riso, riso e bufa, até que aconteceu o inevitável, isso mesmo que o (a) leitor (a) pensou, eu havia engolido uma “bomba” e ela “explodiu” ali na sala. Borrei o sofá, o chão, a mesa de centro e até a TV recebeu uma pequena “descarga” que não chegou a ser fatal, porque o aparelho era da mesma qualidade. Fui escorregando para o banheiro e enrosquei a cueca na maçaneta da porta ficando pendurado por cerca de trinta segundos e no esforço para me desfazer da famigerada tranca “pintei” metade da porta. Quando consegui me desvencilhar e sentar no “trono” já não tinha mais nada a fazer...
 
Pedro Martins
24/03/2011        

 

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