Ò tu que suspiras por esses versos!
Palavras soltas como sementes
Que o vento forte espalha
Para geminarem em distantes terras,
Sabes de onde eles vêm?
Do sereno da madrugada
A cair sobre os ombros
Dos poetas seresteiros,
Da chuva refrescante
A cair sobre o solo ressequido,
Vem das lágrimas de dor...
Dos espinhos sobre a flor!
Das fitas coloridas
Penduradas nas janelas.
 
Não te admires
Por eles serem assim,
Tão simples e humildes!
Sem esmero nas formas,
Sem brilho as arestas.
 
É que os anjos
Não são assim tão puros!
E os demônios
Não são assim tão pecadores!
 
Ò tu que te demoras a sonhar
Pestanejando sobre esses versos!
Sabes de onde eles vêm?
 
Vem de muito longe
A caminhar sobre trilhas
De animais selvagens,
Dos olhos refletidos nos vidros
Das janelas quebradas.
Vem do fundo de um lago,
Do borbulhar das correntezas,
Do trovejar violento
De águas revoltas
A caírem sobre as rochas.
 
Vem não sei de onde!
 
Sem boa origem, sem pedigree
Vem das ruas e becos escuros,
Das latas furadas!
Não sorrias menosprezando
Suas origens,
No mundo não nascem mais cristos
Em manjedouras de ovelhas!
Eles agora nascem
Dos versos esfarrapados
De um miserável poeta.
 
Ò tu que criticas e corriges
Esses versos!
Somente podes saber
O que te é lícito compreender!
O que te escapa
Pelo canto do olho
Escorrendo por tua face
Como baba mal cheirosa
São versos mal rabiscados
Compostos em uma poesia
Abortada no útero da mente.
 

Abner Poeta
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