crônica: CRIANÇAS ANSIOSAS DEMAIS?

 

CRIANÇAS ANSIOSAS DEMAIS ?

A revista Época levantou um tema muito interessante onde estatisticamente cita-se que o número de crianças ansiosas cresceu 60% na última década.

Houve muitas surpresas e cartas posteriormente comentando a matéria, mas a meu ver não deveria haver nenhuma surpresa.

Com certeza se a matéria tivesse sido feito por regiões este índice variaria muito, pois na certa o ápice desta estatística está nos grandes centros e não em regiões interioranas ou pequenas cidades que costumo freqüentar e onde vejo as crianças compartilharem os compromissos com momentos que são só delas.

Nas cidades grandes ainda em tenra idade as crianças já estão tendo que entrar numa maratona disciplinar que dá dó em cada um que teve uma infância ainda à moda antiga, como nós na faixa dos cinqüenta anos.

As crianças de classe média de hoje saem do colégio todo dia tendo aula de todo tipo como balé, judô, inglês, teatro e tantas outras parafernálias além das matérias normais.

O que sobra de tempo para elas mesmas? Para os momentos de total descontração? Quase nenhum.

Então o que esperar destas crianças no lado emocional? É lógico que a sobrecarga é grande, ainda mais se elas forem as “felizardas” de ainda sofrerem de bulling, como eu que vim de um estado com sotaque totalmente diferente do da região.

Elas saem das suas salas de aula massificadas e vão para os ônibus ou para os carros dos pais que as levarão para as suas casas, onde terão de fazer os deveres para o dia seguinte carregando aquelas imensas mochilas.

Elas curtem tudo no fundo como uma coisa natural, pois não possuem parâmetro para comparar, não conhecem outra vida já que desde cedo já são direcionadas nesta direção com todo tipo de controle e disciplina.

Não há criança que agüente. Ela tem que ser boa em tudo, tem que ir bem em tudo, senão é considerada com problema. Quem tem problemas são estes pais que criam essa “fissura” na cabeça delas.

Se for muito impulsiva (o que pode ser até uma reação a tanta cobrança) já é tratada como uma criança portadora da doença da moda, o transtorno de déficit de atenção. As mães logo já são chamadas e apavoradas já compram também o diagnóstico e sem nem pararem para pensar que hiperatividade é o que qualquer criança tem, já vão com as “receitas tarja pretas” comprar as suas Ritalinas.

Deixe qualquer criança livre e com certa liberdade que ela já vai inventar alguma coisa para fazer desenvolvendo também a sua socialização ou brincar, mesmo que sozinha. Esta é a natureza de qualquer criança, mas dê tempo para ela.

Outro dia li de uma cronista da revista Veja, Lya Luft, que “encantada” ela via a sua netinha de poucos anos aprendendo e falando Mandarim.

Para os avós e para os pais pode até aparecer bonitinho, mas não seria aconselhável esperar um pouco mais e deixar a criança ou adolescente participar desta decisão?

E será que quando esta criança estiver na idade profissional ela vai se direcionar para uma área onde seja nescessária a lingua chinesa? E será que a China ainda vai ser a bola da vez ao invés de o Brasil ou India?

Tudo é bonitinho com as crianças, mas sempre tem que ter o tempo diário para estes estudos e será que tanta sobrecarga não lhe é prejudicial em tão tenra idade?

O que está faltando é mais tempo para essas crianças brincarem soltas, sem tantos compromissos, pois o que as nossas escolas ensinam são coisas para eles se prepararem para, “lá na frente”, se não endoidarem ou se meterem em drogas, terem um bom emprego ou serem algum grande executivo de alguma grande empresa.

No Japão até duas decadas atrás o suicidio entre os jovens que não se davam bem na escola era o maior do mundo.

Se as nossas crianças já estão ficando ansiosas o que será que acontecerá com nossos jovens?

As nossas escolas formam apenas pessoas para serem “empregados de alguém”, não importa se é de um nível elevado, mas sempre para serem empregados de alguém ou de alguma corporação.

Não se ensina empreendedorismos nas nossas escolas ou não se observa isto nas crianças para ser levado em conta. Só massificações, como se as crianças fossem todas iguais. Elas não podem sair do padrão.

Empreendedores serão apenas aqueles que souberam ou puderam crescer com mais liberdade para aos poucos irem vendo o que gostam de fazer e não só o que os pais gostariam de estarem fazendo se estivessem no lugar dos seus filhos.

Tive um sobrinho que sempre foi muito inteligente para as coisas ligadas à eletricidade e computação e já com cinco ou seis anos ficava ligando fios e fazendo as luzinhas irem acendendo com as pilhas que ele tivesse nas mãos.

Era muito inteligente, mas não conseguia passar da quinta série do primeiro grau (estou certo na colocação?).

Foi levado a diversos psicólogos, mas nada, não conseguia ir para a frente, mas também não se preocupava com isto. Ficava no seu mundinho e quem via não podia dizer que ele tivesse algum problema. Era uma doce criatura, só não tinha poder de concentração nas aulas. Ficava divagando.

E a minha irmã desistiu.

Até que um dia ela ficou sabendo, quando ele já estava com uns quatorze anos, que ele estava colocando anúncios gratuitos em pequenos jornais se oferecendo para concertar computadores e o negócio estava indo bem. Ele ia com um amigo, mas o que aconteceu aí?

A minha irmã, como quase todas as mães, infelizmente, cortou a alegria dele com o seguinte argumento: “Vai que ele vai lá e estraga mais ainda o computador da pessoa?”

Isto é o tipo de preocupação de pais massificados, que tem medo do "diferente" nos seus filhos, mas a maioria são assim na realidade.

O menino que poderia tanto ter desenvolvido este lado nato, que estava claro que possuía, de empreendedor, com menos de vinte anos e sem ter nem terminado o segundo grau já era responsável por todo o setor de informática de uma universidade de projeção aqui em Curitiba, onde agora é que ele está terminando o curso universitário, além de já ter o seu apartamento, seu carro e já estar muito bem casado.

Tinha um grande potencial empreendedor.

Está bem empregado, mas nunca ficaremos sabendo aonde poderia ter chegado no seu empreendedorismo.

Com certeza o céu seria o limite!


Que tal encerrarmos o assunto com o conselho de Tolstoi:
“Deixem as crianças fazerem tudo sozinhas. Isso é mais importante que o conhecimento da língua francesa (atualmente a chinesa?), de história, e assim por diante.”


Aprender mandarim com sete anos? Eu heim!
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"Não é o lugar em que nos encontramos nem as exterioridades que tornam as pessoas felizes; a felicidade provém do íntimo, daquilo que o ser humano sente dentro de sí mesmo' Roselis von Sass - graal.org.br


 
 
 

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