Voltei do Castelo dos Medos. Tão belos segredos se me escancararam na busca, que o singelo torpor que ganhei nem me assusta: trombei com tanto tremor que me frustra e incapacita, que uma certa anestesia de compor era prevista e até bem-vinda, bonita, bem-quista. O duelo foi bruto (luta injusta!): cada golpe de martelo que eu dava num medo astuto, vinha doer era meu dedo inocente em vez do fujão oponente. (Ele se oculta na execução do ato! E a martelada direta, de fato, acerta só meu coração indefeso: revira as mesas, derruba os retratos, quebra os pratos, risca o chão no peso da pancada. No fim das contas, é coração que se desmonta pra todo lado dentro de mim - tanta ruína carmesim! tão pouca monta! tanto desprezo! - e jaz o medo fugaz, refugiado no centro do interior mais remoto, roubando-me a paz lá de onde se esconde e eu nem noto.)
 
Mas tudo se refez, como sempre se refaz no meu coração - Castelo dos Medos - cada vez que eu abro mão do anelo-utopia de desvendar-me todos os segredos. Contemplei a imensidão do que me afligia o peito, com solene respeito, e finalmente entendi a poesia iminente do que me limita: é perfeito, simplesmente! O poema já está feito, a rima escrita em cada receio recorrente, obras-primas de todo conflito que me habita, de todo dilema, de tudo o que creio e omito e confio e resisto e desafio e admito...
 
Voltei do Castelo abandonando o flagelo da super-explicação: deixa haver o temor que proteja o coração; pois o que quer que seja o amor, carrega a maldição de ser capaz de destruí-lo, mas o medo tranqüilo inibe a entrega contumaz e inoportuna de afeição que traz o sofrer, e embora limite a paz, acredite: o medo costuma saber o que faz.