COISAS QUE ACONTECEM
Saí da minha cidade
Pra São Carlos viajei
Foi dia sete de Junho
Do ano de oitenta e seis
Vim tentar a vida só
Logo me acostumei
Quando eu aqui cheguei
Pensei não me acostumar
Pois o frio era intenso
A ponto de congelar
Trabalhava só à noite
Pra de dia descansar
Não pensava em outra coisa
A não ser em trabalhar
Minha vida era agitada
Nem gosto de me lembrar
Era de casa para o trabalho,
Do trabalho para o lar
Era sempre esta rotina
Só de trabalho e canseira
Porém eu não reclamava
Era coisa costumeira
Trabalhar era o meu forte
De segunda a sexta-feira
Até que um dia pensei:
Esta vida há de mudar
Falei então para o chefe
Que precisava trabalhar
Durante o dia porque
À noite ia estudar
Então bem rapidamente
Ele já me transferiu
Para trabalhar de dia
E logo me advertiu:
Se você não estudar,
Volta pra noite, ouviu?
Daquele dia até hoje
Só de dia trabalhei
Não trabalhei mais à noite
E também não estudei
Comigo é assim mesmo
Faço tudo e a própria lei
Não sou um mau funcionário
Afinal tenho decência
Andei faltando alguns dias
Só me deram advertência
Se me mandassem embora
A firma ia à falência
Certa vez, senti vontade
De voltar para Gastão
Pensei: talvez se eu faltar
Eles me demitirão,
Só não vou pedir a conta
Pra não sair sem um tostão
Faltei segunda e terça-feira
Na quarta fui até lá
Suspenderam-me neste dia
Pra na quinta eu retornar
Às atividades normais
E não mais me complicar
Faltei na quinta também
Na sexta foi feriado
Sábado e domingo folguei
Meu plano havia falhado
Na segunda retornei
E fiquei mais complicado
Desta vez foram dois dias
De suspensão que levei
Segunda e terça-feira
Parado então fiquei
Já que não me demitiram
Pro trabalho então voltei
Quando cheguei na secção
Nada me surpreendeu
Meus amigos perguntavam
O que foi que aconteceu
E eu contava em detalhes
Tudo o que se sucedeu
Até ai tudo bem
E nada de anormal
Pra mim tudo estava certo
Tudo era natural
Mas só depois percebi
Que aquilo era fatal
Dia dez chegou depressa,
O dia do pagamento
Eu estava ansioso
Só esperando o momento
De pegar o holerite
Para ver o rendimento
Quando o chefe me entregou
O holerite na mão
Olhei depressa o total
E quase cai no chão
Apenas três mil cruzados
Dinheiro de beberrão
Passei muitas necessidades
Durante aquele mês
Pois tudo o que recebi
Gastei tudo de uma vez
Pensei: nunca mais eu falto
Um dia, dois e nem três,
Até hoje continuo
Nesta empresa trabalhando
Ganho pouco na verdade
Mas não vivo reclamando
Não penso mais em sair
Mas vou acabar pirando
Por aqui vou terminando
Essa história intrigante
Não posso vender a cópia
Pois não sou comerciante
E também não posso dar
Pois para mim é importante
Se você tiver um fato
Que precisa ser rimado
Conte logo para mim
Que o devolvo versejado
Se a história for desta empresa
O meu muito obrigado
Pois eu não escrevo mais
Poesias nem jograis
De lugar mal assombrado.
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