Conto - Duas lágrimas num vidrinho

Há muito tempo atrás, uma mãe deu à luz ao seu filho. No mesmo dia, o médico informou que ela não poderia mais engravidar. Ela chorou muito, pois tinha uma família cheia de irmãos e irmãs e pretendia ter uma família muito grande. Nos primeiros dias ela ficou muito triste, mas começou a perceber que seu filho “chorava muito mais quando ela estava triste”, parecia até que ele entendia a tristeza da mãe e na maioria das vezes ela não sabia o que ele tinha. Então, resolveu fazer um diário contando a vida do seu filhinho, quando ele ria, ela escrevia hoje dia 10/01/90 ele deu seu primeiro sorriso, e contava o motivo, mas quando ele chorava além de contar o motivo também recolhia duas lágrimas e colocava num vidrinho. Com o passar dos dias, iam-se enchendo muitos vidrinhos. E ela ia escrevendo seu diário. Mas com o passar dos anos, os vidrinhos iam diminuindo e os diários iam aumentando.
Com 10 anos, ele não queria ir à escola, com 12 anos ele já fumava, com 15 anos já havia sido recolhido pelo reformatório, e aos 18 anos, estava preso pelos inúmeros delitos. Ele parou de chorar, mas aos 10 anos começou o choro de sua mãe.
O choro de sua mãe já dava para encher um oceano aos 18 anos. Ela esqueceu que ao escrever todos os momentos de seu filho, deveria também ter ensinado como era a vida. Deveria ter mostrado a ele todos os vidrinhos que continham suas lágrimas. E mostrado os motivos, e como ela sofria ou ficava feliz com tudo o que ele fazia. Ela esqueceu de contar como ele foi bem-vindo, que as lágrimas podem encher vidros e oceanos, mas jamais podem substituir a atenção e o amor que ela sentia por ele. Ela esqueceu o principal; de demonstrar o amor que sentia por ele, tão preocupada que estava em recolher suas lágrimas e escrever seu diário, que se esqueceu que “lá atrás” seu filhinho chorava quando ela estava triste. E hoje, é ela que recolhe suas próprias lágrimas num oceano de sofrimento.

Nota do autor: Inspirada numa historia que mamãe contou.
Desculpem se for igual a história original pois a outra eu nunca li.

Lucélia Lima
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