Foi tudo um sonho?

Dia ensolarado, quente, digo um inferno mesmo, desses dias em que se pode fritar um ovo no asfalto. Andava eu no centro comercial de Belém a fim de comprar umas camisas novas.

E lá estava eu naquele sol castigante que em minha região geralmente precede uma chuva, diante de incomensurável calor resolvi refrescar a garganta, entrei em uma birosca e pedi ao balconista, o qual parecia mal humorado, uma cerveja estupidamente gelada. Aquele néctar dos Deuses desceu goela abaixo, refrescando a garganta e talvez a alma.
Eis que de súbito entra na birosca um individuo sujo, vestido com roupas velhas, com um odor de jaula do museu, caminha com certa dificuldade até o balcão e pergunta ao balconista mal humorado, se ele podia arrumar alguma roupa que não quisesse mais para lhe dar, rispidamente o balconista responde:
- Todo dia a mesma conversa..., Vai trabalhar vagabundo!!
Então o homem com roupas velhas levanta a camisa já surrada pelo tempo de uso continuo e mostra uma ferida enorme e feia, talvez dessa ferida exalasse aquele fedor de jaula.

Foi ai que percebi que o balconista era também o dono da birosca, pois ele pulou o balcão e expulsou o homem com roupas velhas do lugar dizendo:

- Cai fora do meu bar, seu vagabundo!!!

Terminei minha cerveja, paguei e segui meu caminho. Entrei em uma grande loja de roupas e fui no setor de camisas para verificar preços e modelos.

Escolhidas as camisas que ia comprar, chamei um vendedor para que avia-se a mercadoria. Foi quando tomei um baita susto, ao ver que o vendedor era a cara do homem de roupas velhas que tinha visto a pouco na birosca, será que apenas uma cerveja estaria me fazendo ver coisas? Ou o sol castigante na moleira causou tal efeito?

Ainda assustado sem saber o que estava acontecendo paguei as camisas e tratei de dar no pé daquele lugar, chegando em casa tomei um banho frio e deitei em minha cama para descansar, fiquei pensando no que tinha ocorrido até que adormeci.

Blimm, blomm... blimm blomm, acordei com o som da campainha de casa a tocar insistentemente, levantei e fui atender a porta. Quase tenho um ataque do coração ao ver o homem com roupas velhas no meu portão, pedindo uma roupa que eu não quisesse mais.

Tremendo de pavor corri até meu quarto pequei umas camisas no armário e levei para o homem de roupas velhas, o qual me agradeceu dizendo:

- Deus lhe pague três vezes mais seu moço!!

Corri para o quarto para ver as três camisas que tinha comprado, mas para minha surpresa não consegui encontrar a sacola da loja em que estavam as camisas. Sentei na beirada da cama e pensei:

- Será que tudo não passou de um sonho?

Adormeci novamente e blimm, blomm... blimm blomm, a campainha mais uma vez, fui atender com as pernas tremendo, mas logo me acalmei vendo que era minha esposa que chegara carregada de sacolas, dizendo:

- amor, fiz umas comprinhas e lembrei de você.

Pegou entre as varias sacolas, uma da mesma loja em que, supostamente eu tinha ido pela manhã, tirou três camisas de dentro da sacola e me deu com um enorme sorriso.

Marcelo Barros
© Todos os direitos reservados