crônica: "PEQUENO ENSAIO SOBRE A TIMIDEZ"

PEQUENO ENSAIO SOBRE A TIMIDEZ

A timidez é inexplicável, não é?
Quem a tem, ou teve, sabe do que estou falando.
É uma 'contra força' que temos dentro de nós e que não permite que façamos aquilo que gostaríamos de fazer.

A sensação é como se você tivesse milhões de coisas dentro de você, para falar ou fazer, mas que tem um redutor, que não permite que se dê vazão a tudo e você trava.

Não há uma 'organização interior' normalizando tudo e pondo tudo em fila para fluir normalmente

Acontecendo o travamento, um abraço, pode ir para a próxima parada, não é?

Se você considerar uma só vida é muito difícil entende-la, pois em primeiro lugar não seria justo, devido a tantas frustrações que provoca, tanto profissional como, principalmente, emocional.

Atitudes tão simples parecem um monstro para quem a possui.

E sem comunicação não há troca, não há interação e não há fortalecimento do ser, que se torna muito mais vulnerável a eventuais decepções e desilusões que acabam tornando a pessoa ainda mais retraída e que para outras, sem a timidez, serve como vivências que as tornam mais temperadas para a vida.

E como curá-la? Sabemos que não é tão fácil, pois é algo acima das forças que possuímos e como adquirir esta força para neutralizá-la?

Haja esforço e haja decepções até chegar-se lá, se é que chegamos, mas ela não é prejudicial para todos.

Há pessoas que convivem naturalmente com ela, são felizes, pois não sofrem por desejos não conseguidos, mas que a timidez provoca em outros.

De onde vem esta força tão grande, que nos neutraliza, e que não está presente entre os nossos irmãos ou outros familiares?

Se fosse só pela influência do meio familiar todos teriam que ter, pelo menos um pouco dela também, mas sabemos que não é assim.

Entre as famílias como são diversas as personalidades, não é mesmo?

Em famílias da minha geração, onde o número de irmãos era maior, isto ficava mais visível.

Em casa, por exemplo,  éramos cinco, três irmãs, eu e meu irmão.
Com o meu irmão, apesar de termos só dois anos de diferença, nunca tivemos afinidades. Era como se ele fosse muito mais velho do que eu e freqüentava um mundo totalmente diferente do meu, não tínhamos nada em comum.
E as minhas irmãs nenhuma tinha nem um décimo da timidez que eu tinha.

O meio familiar atua de forma muito individualizada em cada um, o que demonstra que trazemos já alguns pré-requisitos que é só nosso.

O certo seria dizer que ‘estamos’ numa família, pois o tempo que passamos com eles é muito curto perto do tempo de tudo, apesar de parecer longa a vida.

Sempre gostei de perguntar a pessoas bem mais velhas, do que eu, se a vida tinha passado rápido e nunca teve uma que me dissesse que não.

A realidade é que já trazemos muitas imperfeições vindas de outras vidas e, na maioria quase absoluta da humanidade, atualmente, sai-se pior do que se veio.

Ora, só porque morremos não vamos a um lugar melhor do que aquele que criamos com os nossos sentimentos e pensamentos que tivemos aqui.

Quando jovem, pela incapacidade que me causava a timidez, acabei me refugiando atrás de uma imagem mais agressiva, para poder sobreviver,pois não me conseguia fazer valer, caso assim não fosse, mas isto não me trouxe nenhuma felicidade interior, claro, pois estava sempre sob tensão, me blindei. 

Eu acabei me mantendo atrás desta imagem que me trazia companhia, mas não me deixava realizado, pois sabia que as as relações não eram completas, pois o pânico só estava camuflado e não conseguia desenvolver, nesta paranóia, a afetividade e a intimidade necessária, que é o que nos trás a felicidade e a alegria.
Haja conversa para dissimular.

Tinha quantidade, mas não qualidade.

Como diz a música ‘eu só vou gostar de quem gosta de mim’.

Fazer isto é se condenar à infelicidade, pois devemos ser movidos pelos nossos sentimentos e não só pelo que os outros sentem por nós.
Não devemos ir ficando com alguém, só para não ficarmos sozinhos, senão é a pessoa com quem desejaríamos estar.

Mas como se harmonizar com alguém, senão possuímos já dentro de nós esta harmonia?

Passa-se a ser escravo dos outros, sem ter consciência, e um dia vai cair a ficha e a insatisfação vai prevalecer com tudo e, talvez, não tenhamos mais tempo para irmos atrás daquilo, que nos deixaria realmente felizes.

No meu caso eu não superei a timidez, eu a camuflei violentamente.
E isto, claro, não trouxe melhoria, harmonia e nem alegria nenhuma,
Aproximou-me das pessoas, ou melhor, acabou atraindo elas para mim, mas não era eu que as escolhia, eram elas que me escolhiam, e eu me acomodei nesta situação, por um tempo, depois a frustração bateu forte e eu tive que ir dar a cara para bater novamente.

Descobrir o prazer de conviver com as pessoas, normalmente, sem nenhuma mascara ou ansiedade, independente de quem sejam, se têm poder ou não, se tem dinheiro ou não. Esta liberdade eu consegui, e gostaria que voce também conseguisse, caso tenha o mesmo problema.

Mas então o que o tímido pode fazer afinal? Pelo menos aqueles casos mais agudos, como era o meu caso?
Eu diria que ele primeiro tem que procurar a todo custo se harmonizar interiormente primeiro. Ai voce diz: Falar é fácil, não é? Mas não tem outro caminho.

Aprender a dominar a ansiedade que é a que causa o travamento e não ficar se amofinando se não conseguiu, ou por uma eventual frustração.
Tem que olhar em frente, não ficar se lamentando pelo que não fez, ou pelo que não deveria ter dito ou pelo que deixou passar, ou pelo que deixou de fazer ou ter. Não olhar mais para trás

Colocar este objetivo e ir em frente e não se importar com eventuais vergonhas e auto criticas que todo tímido tem.

E, claro, sempre procurar esclarecimentos, não esquecendo que tudo que passamos nesta vida, seja de bom ou ruim são resultados de erros e acertos que vão formando os nossos caminhos de uma vida para a outra.
Tudo é colheita.

Tudo que sentimos dentro de nós ou pensamos cria vida no mundo fino que nos rodeia e nos acompanha, tanto nesta vida como depois e depois

O mundo é uno, tanto o do lado de cá como o do lado de lá.

Por isto os ditos:

‘Pois suas obras os seguirão’

e,

‘O que o homem semeia isto ele colherá’.

Tudo que nos causa sofrimentos ou limitações, assim como também alegrias e paz é resultado desta lei, a lei da causa e efeito, a lei da reciprocidade e que quando temos ciência dela e de como funciona veremos também, e muio, que todo sofrimento pode ter alivio, quando, pelo conhecimento, sabemos nos adequar a ela.

Se você quiser se aprofundar mais nestes assuntos e, se entender melhor, leia ‘Na Luz da Verdade’, de Abdruschin, no site graal.org.br, onde eu obtive muitos esclarecimentos que, pelo menos para mim, foram fundamentais.