CRÔNICA: VISTOS DE CIMA COMO SOMOS PEQUENOS

VISTOS DE UM AVIÃO COMO SOMOS PEQUENOS!

A primeira vez que viajei de avião, entre outras coisas, eu que sou bastante observador, (característica que se deveria incentivar nas escolas), constatei como é pequenininho aquele “enorme” caminhão que ia lá no chão.

E nós então: umas perfeitas formiguinhas.

Como é que “aquelas” formiguinhas lá embaixo, que somos nós, andando para todos os lados, podem ter tantos problemas, se são tão pequenininhas?

Eu viajei nesta “maionese” dentro do avião e fiquei imaginando como somos, nós humanos, insignificantes e ao mesmo tempo tão prepotentes, tão megalomaníacos.

Olhando lá do alto fiquei a imaginar como é que qualquer daquelas “formiguinhas”, escolhida aleatoriamente, pode ter tantas dificuldades e que lá do alto podemos minimizar tanto, que até parece ridículo que possa haver dentro de algumas daquelas cabecinhas tantos sofrimentos ou preocupações.

Um sofre porque não encontra amor, outro carrega tantas mágoas interiores que chega a arcar a cabeça de tanto peso, ao invés de se livrar deles, outro só pensa em dinheiro, outro procura na infância alguma explicação para os seus grilos, outro se esconde numa fé cega ao invés de procurar o caminho da verdade, outro só vive na inveja, outro só na aquisição de bens materiais e por aí vão aquelas formiguinhas.

Como é que o homem ao longo destes milênios todos foi adquirindo tanta confusão que hoje, apesar de achar o contrário, pôde tornar a sua vida tão confusa?

E o pior é que a gente que está dentro daquele avião, que mais parece uma carroça quando está em manobra para o pouso, só vê as formiguinhas nesta hora, pois quando está em pleno vôo nem sombra, claro de ninguém. Imagine da Lua!

Meu irmão, como somos pequenos e arrogantes, e ainda nos achamos a parte inteligente do Universo. É ruim, heim!

Hoje eu passei na frente da casa que pertenceu à família de um amigo de adolescência, que depois de torrar tudo que tinha no Rio de Janeiro e ter enveredado em um caminho de muita arrogância, com muita droga e boa vida, na década de setenta, voltou para casa tendo de recomeçar tudo do “zero”, já que secou a torneira que vinha do pai e ele acabou se matando.

Um pouco antes do acontecido ele me encontrou numa seguradora e precisou usar a minha corretora para poder dar entrada em um seguro de automóvel para, concomitantemente, poder receber a comissão.

Ele tinha sido muito próximo de mim, ele e o seu primo juntamente com as suas primas.

Vivíamos inventando programas em quase todos os finais de semana. Foi um período muito bom aquela época, com grandes viagens ao redor da cidade, com acampamentos, aventuras na natureza, finais de semana em sítios, viagens de trem e tudo que tivéssemos à mão.

Acredito que todos fomos muito felizes naquela peíodo, com aqueles quinze anos, mas eram os anos setenta e logo acabamos tendo contado com as drogas.

Eu nunca gostei dos “baseados”, só me faziam ter fome e sono, mas hoje tenho consciência que elas foram os divisores de água da minha geração.

Este meu amigo entrou de cabeça, com os irmãos das primas, e eu para aquela turma fui ficando para trás. Eu os via como se tivessem ficado a anos luz de mim, que ficou lá longe, pequeno, e não mais merecedor daquelas amizades.

Eu não via isto com rancor, nem minveja, pois não me via preparado para acompanhá-los. Até admirava-os pela coragem.

Eu os via como “bons vivans” e como jovens que ficaram muito arrojados, parecia que não tinham medo de nada. Pareciam os donos do mundo e nada os atingiam e o tempo passou e todos seguiram os seus caminhos.

Quando voltei a encontrar este ex amigo, ainda o via como alguém que não era mais da minha turma, ainda o via como um grau acima e eu lá ainda com as minhas pequenas atividades normais e mundanas.

Ele me falou dos meses que passou no Rio de Janeiro fazendo festa, fumando e bebendo todas só do bom e do melhor. Disse que tinha torrado tudo e agora estava de volta. e não é que precisou da minha pequena corretora para poder ganhar algum dinheirinho? Fiquei até admirado.

Ele não era mais aquela pessoa que eu conheci, através das primas, que eram gamadas em mim, e que me queriam sempre nas festas delas, embora fossem, no geral, vamos dizer, umas “patricinhas”, o que não era muito lá a minha praia.

Eu acho que eu era um “maluco” da gema, sem fumar os ditos cujos.

Aquele pessoal seguiu um caminho de ousadia, arrogância e vício, que os tirou da realidade e ele não soube voltar, pois uma hora temos que voltar, não importa os caminhos que tenhamos tomado.

A vida não é feita dos excessos, nós até podemos tê-los, por um período, até alguns anos, como eu também tive, mas a vida, mesmo, é feita dos “dias após os dias” e é deles que devemos tirar a nossa alegria, os nossos ensinamentos e no final a nossa felicidade. Só chegando a este ponto adquirimos a paz tão ansiada.

É no dia a dia: com a mulher que gostamos de estar, é com o nosso cachorro; é com as nossas músicas, nossos futebóis, nossos amigos, nossos momentos de lazer, são com estes que encontramos o verdadeiro aprendizado.

E o tempo é o melhor remédio para nos reencontrarmos com nós mesmos, depois de todas as andanças, de todas as procuras, de todas as perdas, das quebradas de cabeças, de todas as estripulias que possamos aprontar, e de todo o tempo que possamos ter perdidos.

Temos que esperá-lo passar, só ele vai acomodar as coisas.

A vida é como um rio que começa com um filete, se torna arrojado, se bate em tudo quanto é pedra, vai abrindo caminhos, por várias vertentes e depois de muito revolto vai se acalmando e no final, quando for se encontrar com o mar, já estará apaziguado na sua maior parte..

Quem sabe dar este tempo para chegar a “este tempo” é um sobrevivente, é um vitorioso.

Mas aquele meu amigo não soube voltar a viver desta forma e recomeçar; não esperou voltar a viver de forma apaziguada e equilibrada consigo mesmo e acabou egoisticamente com a vida e com o tempo que o iria ajudar. Era só ter esperado.

Não aguardou para descobrir na vida os verdadeiros valôres e que, realmente, se desejasse, acabaria descobrindo.

Viveu só o período da mentira e da euforia.

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Em qualquer situação da sua vida procure se lembrar:
'Não é o lugar em que nos encontramos nem as exterioridades que tornam as pessoas felizes; a felicidade provém do íntimo, daquilo que o ser humano sente dentro de sí mesmo' Roselis von Sass -
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