Chega de tecnologia

Não quero mais ler os teus recados
nas telas opacas
deste quadrado e insensível monitor.

Estou com vontade de te dar um abraço,
de ouvir tuas falas,
de sentir teu calor.

Cansei-me deste diálogo tolo e insosso
entre mim e esta pálida tela,
sou mais afeito à viva aquarela
que, naturalmente, resplandece do teu rosto.

Já não vejo alguma graça,
tampouco dão-me contentamento
os poemas feitos por pessoas que nunca vi.

Alegra-me ler o que na tua cabeça se passa
e presenciar o arco-íris de teus sentimentos,
então, ante o virtual, anseio o papo facial e te ouvir.

Esta mania meio irreversível e já claustrofóbica
de nutrir quaisquer laços à moda de internautas
faz da gente um ser repleto de necessidades.

Tolhe-nos a emoção e o senso e o riso e a lógica,
no físico e na essência há inexplicável sensação de falta;
mudos: a boca, os olhos, os braços já não falam da saudade.

Por isso, incontinente, volto ao pretérito
e ando por lugares do mundo antigo
e me vejo avesso à modernidade.

Lá, corpo e alma se expressam em gestos,
além da alegria espontânea dos amigos
alheios a este beócio subterfúgio de comodidade,

Que nos foi vendido pela alta tecnologia,
por parcos trocados, a princípio, quase irrisórios;
todavia, uma conta impagável, se vista c'outros olhos,
pois que nos consome o improviso e a magia.