...desejando não desejar
Vestida de gelo
Coberta de máscaras
A dama hoje está branca
Fria
No meio dos ímpios
Resistindo
Constante em vigílias
Não dorme
Repudia dos desprezíveis “egos”
Assim sufocou seu penar
Não sente
Dorme a dor em silêncio
No enterro dos sentimentos
Todos os dias
Caminhos sem atalhos
Florestas de árvores secas
Seu sangue não escorre, da ferida
Olhos de vidro
Vidrados a fitam
Defende-se dos ataques
Guerras inúteis
Palavras despidas
Ríspidos algozes em seus labirintos,
Presos em suas próprias armadilhas
Ostentam seus castelos de areia
Fortalezas passageiras?
Não percebem as cores, da vida
A simplicidade de apenas existir
Pobres em espírito
Acreditam-se abastados
Reinado curto?
Ela não sabe...
Em defesa, se transforma em estátua
Dama de pedra, dos mil disfarces
Dança na noite a tristeza
De um coração marcado
Emudecida pelo meio
Imóvel em meio à tempestades
Do verbo que fere
No covil dos lobos
Famintos de orgulho e soberba
Alegram-se com suas investidas
Regozijam-se em seus banquetes
Matam sua sede ...
no lago das falsas aparências
Dama esvazia sua mente
Castra seus pensamentos
Para não serem roubados
Ignora o presente
Dama branca perdida no tempo
que jaz no passado...
dos ventos e das fugas
do norte e do sul
dos devaneios das emoções de outrora
Rotas invertidas
Cotidiano de seres perdidos
Num pântano de inutilidade
Do cheiro de mofo, de pó e umidade
Dama desfeita, sem ilusões
Se esconde
Por querer não querer
De costas
Desejando não desejar
Despista...
Lembrando-se de não lembrar
Para não esquecer de esquecer
Para não mais chorar
Não há contornos,
tão pouco, retornos
Dama forjou sua espada
Com doses de indiferença
É o avesso do avesso
Sem mapas, caminha
Nas noites infinitas, sem cometas
A bússola quebrou e o mapa
que a levava até o cometa ,
perdeu-se no tempo...
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