Descrença
 
De vez, entrego meu coração
sem pesar, um fardo sem valor,
sobrecarregado d' ilusão,
vazio d' ódio ou d' amor.
 
Parto, sem esperança, sem fé.
nem caridade, só, na descrença,
rumo ao desconhecido, a pé,
 roto, pejado d' indiferença.
 
Deixo tudo, meu parco haver;
folhas de papel garatujadas,
d' arabescos falhos de saber,
penas rombas, poesias danadas.
 
Furto-me de madrigais d' intrigas,
d' armadilhas fatais , medos e brigas.
Nego-m' à irrealidade vil
da possessão do amor senil.
 
Esqueço-me d' odores famintos
do inebriar dos meus sentidos,
do sexo, suas artes e gemidos
que me cercaram, secos e extintos...
 
De vez, eu esqueço-me de mim,
de sonhos, de promessas, enfim...
Parto, descrente, ouso um fim,
desta selva, outrora jardim!

Triste Poeta
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