Fada Moura ( Série de poesias do autor - Lendas lusitanas )

Fada Moura ( Série de poesias do autor - Lendas lusitanas )

Vagava louco pela vila de Linhares da Beira
Em noite Joanina , na melancolia e solidão,
Quando sede pediu às águas ouvidos,
Todos sentimentos do coração..
Girava tardia hora da meia-noite,
Felicidade não vinha, tristeza fez jus desejos
Da velha fonte, nas águas a sede fui labiar...
Do espelho ondulado veio canto,
Dando conta da Lua refletida
Moura embevecida,
Longos cabelos louros a pentear...
Alegria divina inundou sonhos,
Querendo à nobre Senhora encantar,
Mesmo a seu pedido aconchegasse lágrimas ,
Lembranças de tempos idos,
Do destino abandonada,
Novamente amor fosse recriar....
Como encanto,
Rapariga a serpente fez-se presente,
A mim inteira pertenceria,
Se beijo na boca fosse dar....
Templário , sem noção do perigo
Asqueroso réptil ,
Fria pele fui beijar .
Saltou-me aos olhos sua fronte,
Belo corpo, lábios de mel
Que d'hora avante,
Todas freguesias do Além Tejo,
Meu nome em lendas iriam cantar...
Lembram do louco e da fada moura*,
Que juntos na lua foram repousar...
São vistos sempre perto das Três Marias,
Guiando com seus brilhos destinos,
Bêbados ,navegantes,
Todos amantes
Transidos pela noite,
Grande paixão sonhando buscar...

 

*Fada Moura - personagem de uma antiga lenda medieval Lusitana...

 

Crê-se que a figura da fada é uma reminiscência da antiga Deusa e algumas fadas eram chamadas pelo povo de "rainhas", "senhoras", "deusas", "avós" e "destinos" e deste último sentido talvez derive o seu nome fadas, do latim fata. Os seus poderes, tal como os das divindades, eram imensos, incluindo a capacidade de transformar seres humanos em qualquer objecto. Tinham uma aparência humana mas eram feitas de um material volátil que lhes permitia materializar e imaterializar livremente em qualquer forma na natureza que desejassem. Na tradição medieval, as fadas eram consideradas mulheres de aparência absolutamente normal que tinham capacidades mágicas e sobrenaturais. As fadas eram também associadas à Lua e dizia-se que seguiam as antigas religiões pagãs do culto da Deusa. Estas fadas eram consideradas feiticeiras cujo país tinha existência real e se situava, por vezes, em ilhas distantes, como a mítica Avalon e as ilhas Afortunadas ou, ainda, num local situado entre o Inferno e o Paraíso. Alguns povos acreditavam que as tumbas antigas eram portas para o reino das Fadas, um mundo de fantasmas e espíritos temido pelos humanos. A sabedoria das fadas era algo inquestionável e as pessoas na Idade Média pediam a sua protecção e agradeciam-lhes com oferendas várias, inclusive comida e bebida que deixavam em locais especiais. A Igreja definiu por fim que as fadas não eram almas penadas e portanto só poderiam ser espíritos que, como estavam longe do seu domínio, só poderiam ser maus. Assim, as fadas tornaram-se nos "bodes expiatórios" de todos os males, fossem a doença de animais ou de pessoas que, quando inexplicáveis à luz dos conhecimentos da época, eram considerados "possuídos" pelas fadas. Algumas crianças com atrasos mentais eram deixadas pelos pais com a justificação de que tinham sido trocadas pelas fadas. Mais tarde, as fadas deixaram de estar presentes como fazendo parte da realidade e passaram a habitar o mundo infantil através dos contos de fadas, como seres bons e protectores. Em Portugal, a figura da fada foi muitas vezes associada à personagem da moura encantada que premiava a coragem e a lealdade com riquezas, para além de proteger os apaixonados. A origem da versão moderna da fada foi popularizada através dos contos de Charles Perrault, a partir do século XVII.
 Mestra da magia, a fada simboliza os poderes paranormais do espírito ou as capacidades mágicas da imaginação. A fada realiza as mais extraordinárias transformações e, num instante, satisfaz ou rejeita os desejos mais ambiciosos. Talvez ela represente o poder do homem de construir com a imaginação os projectos que não pôde realizar.
            A fada irlandesa é, por essência, a banshee, de quem as fadas de outros países célticos não são mais do que equivalentes mais ou menos alterados ou semelhantes. À partida, a fada, que se confunde com uma mulher, é uma mensageira do Outro Mundo. Muitas vezes viaja sob a forma de ave, de preferência de cisne. Mas esta qualidade não pôde continuar a ser compreendida a partir da cristianização, e os transcritos fizeram dela a figura de uma enamorada que vinha à procura do eleito do seu coração. A banshee é, por definição, um ser dotado de magia. Não está submetida às contingências das três dimensões, e a maçã, ou o ramo, que ela entrega tem qualidades maravilhosas. O mais poderoso dos druidas não consegue reter aquele que ela chama e, quando ela se afasta provisoriamente, o eleito fica prostrado.
            Shakespeare mostrou maravilhosamente, com a rainha Mab, a ambivalência da fada, que é capaz de se transformar em feiticeira:  
          
             "Oh, vejo, pois, que a rainha Mab vos visitou.
           Ela é a parteira das fadas, e quando aparece
            A sua forma não é maior que uma pedra de ágata
            No indicador de um almotacé
            Puxada por um conjunto de pequenos átomos…
            … é sempre esta mesma Mab
            Que entrança a crina dos cavalos à noite
            E com os seus cabelos viscosos
            Fabrica nós mágicos
            Que, desembaraçados, trazem grandes infortúnios.
            É a feiticeira… "