O GALO E A SOLIDÃO

O GALO E A SOLIDÃO

Que vontade que eu tenho,
De largar tudo e ir para roça.
Ouvir deitado o barulho do engenho,
Sob o teto de uma palhoça
 
Tomar banho de lua cheia,
Sentir a brisa suave que agita
O milharal verde que permeia
O mangueiral, o coqueiral e as flores bonitas.
 
Ao romper do dia sair para luta,
Empunhando quem sabe enxada ou machado,
E, quando cair à tarde suado e cansado da labuta!
Feliz agradecer pelo dia abençoado
 
Ouvir a noite o canto da Coruja e o Bacurau,
Ver o volteio que faz o Pirilampo.
Tomar café de garapa, comer curau,
Ah! Quem me dera poder viver no campo!
 
Se houver para compor o cenário, uma viola!
Se aparecer por lá um cantador!
Porque não há mágoa de amor, que viola não consola,
E não há solidão onde tem um trovador!
 
Deleitar-me ouvindo o trinar do Canário da Terra,
Do Trinca Ferro, do Sabiá e do famoso Corrupião.
Ver o Tiziu saltitando no galho e a pequena Cambaxirra
Defendendo o ninho contra o Gavião.
 
 
Acordar com o canto do Galo na madrugada
E da Galinha poedeira no terreiro a cacarejar,
Molhar os pés na relva verde e orvalhada
E fazer força para de felicidade não chorar.
 
Ah! Como gosto de ouvir uma viola que ponteia
Envolvendo com seus acordes a voz do cantador,
Contando para a lua que tranqüila que no céu passeia,
Uma linda história, uma linda história de amor.
 
Acho que vou largar tudo e ir para o campo,
Lá o Galo ainda canta, não tem solidão.
Vive-se um dia de cada vez, não se conta o tempo.
Vida de trabalho, vida simples, vida pé no chão.

Posso dizer porque vivo na cidade e tenho um vago conhecimento da vida da roça, que viver no campo é para mim a forma ideal de vida. Foge-se do consumismo, da sociedade exigente que torna tudo caro por estar atrelado ao luxo e a vaidade. O que é descartável na cidade, no campo ainda pode ser útil em razão da vaidade superar necessidades na cidade, a vida simples do interior faz as pessoas mais humanas, mais apegadas a seus costumes e seus bens.

No convivio que tenho com o migrante do interior.