Isso que escrevo não tem a pretensão de ser belo
Nem almeja tocar, ser lido ou comentado
Não visa um beletrismo estético
Não quer simular alguns detalhes, nem maquiar outros tais
Não tem a pretensão de dizer coisas novas
Não tem a missão ordinária de ficar na mesmice
Não tem a ambição de dizer um eterno adeus
Nem objetiva dizer que algo mudou
Ou que tudo permaneceu como antes
Que tanto fez como tanto faz
Não busca falar com entrelinhas
Não trata de falar com palavras
Não tem o desejo de soar diferente
Nem a vontade de permanecer igual
Usando essa justificativa sem direção
Aliás, isso também não tem caráter apelativo
Aqui não se procura se fazer entendido
Não intenta conservar nem criar
Isso os senhores provavelmente não entendem
Que assim seja, pois eu entendo
Minhas palavras nem sempre exprimem
Uma verossimilhança de sentimento ou dever
Assim
Qualquer coisa aqui já escrita
Que os senhores se identificaram
Que os senhores acharam bonito
Que lhes fizeram olhar com desdém
Que lhes fizeram imaginar
Que lhes fazem pensar
Não tinha nem nunca teve
Alguma pretensão
Toda essa merda não busca um sentido
Ou, melhor dizendo, não tem sentido algum
Não, não tem

(Sua poesia marginal me persegue
Sua falsa beleza também
Sua melodia em perfeito fonema
Adormecida em sentidos
Introspectiva-me: introspectivo
Grito mudo, em silêncio
Não, não! Oh Deus, que eu quero dizer?
Não, não... o que eu quero dizer
Eu vou dizer com um gesto: não, eu não vou)

markquerido
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