Crônica: O peixe apodrece pela cabeça

  Já estou cansado de saber, “se for comprar peixe verifique se os olhos estão brilhantes”.Não gosto de peixe, mas o Vieira, o padre do barroco, certamente gostava muito.Tanto é que, num de seus sermões, ele deu até conselho : “o peixe apodrece pela cabeça”.Isso é problema dele, entretanto o não despertar dos valores de espírito é problema nosso.
É fato que fora d’água a sardinha morre, e o ser humano fora de seu “habitat limite intelectual” passa vergonha. E os que não passam logo retrucam “foi Deus que não me fez inteligente”. Mas, a pergunta retórica em respostas a eles, talvez a mais apropriada, seria: Será que Deus também não fez seu cérebro? Inteligência é capacidade de raciocínio e não limite de aprendizagem.
Esse limite é ocasionado não pelo baixo quociente intelectual (Q.i) e sim pela falta de acesso aos estudos ou falta de vontade própria.Seja a culpa do governo ou do primo da sua tia, o importante é termos um acervo cultural básico. Exemplo    disso é buscarmos no plano da musica, teatro, cinema, pintura, além de outros o conhecimento em questão. Como conseqüência a capacidade de argumentação aumenta e as gafes diminuem certo?
Aqueles que gostam de funk, Nilton Pinto e Tom Carvalho e de Xuxa em o mistério da Feiurinha não perdem nada em usufruí-los    , só que o ganho intelectual também é quase nulo. Falar que não    gosta de Machado de Assis    ou de Jose de Alencar    é questão de ponto de vida, mas dizer que os mesmos são ruins denota falta de nivelamento mental com os textos. Portanto, o critico é diferente do ignorante. Este acha os textos um lixo por não saber interpretá-los e aquele o critica porque esta, geralmente, alem do que foi dito.
Agora quando se trata de aparecer, os “cabeças vazias” fazem a comissão de frente. Exaltados esses, muitas vezes por não entenderem o que foi falado, num ambiente incomum, logo se rebelam e como ignorantes “soltam” frases condenantes e ate pecaminosas. Pecado esse que condenou o ministro da economia que lutou contra o cigarro e foi pego fumando num avião. “Burrice” ou não, o ministro da cultura dos cigarros queimou o pé com a própria brasa.
Já dizia um ditado árabe,”homens são como tapetes, às vezes precisam ser sacudidos”.Com a mente é a mesma coisa.Paralelo a essa idéia, o mestre Millôr Fernandes estava certo ao dizer que “se você não tem duvidas é porque esta mal informado”.Mas, mente vazia não é oficina do diabo?Conseqüentemente, o padre, o Vieira, vai as compras e receita:” O peixe apodrece pela cabeça”, cuidado.

Álvaro Sales
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