passos soturnos
caminham pontes sem início e sem fim.
os pés descalços, feridos pela dor,
acordam recifes de sonhos
que submergem das sinaleiras
solitárias a fechar o caminho do céu.

mas, nada há mais prá sonhar
do que os sonhos que continuam
a nascer, milênio após milênio.

na poesia, somente
o rufar silencioso
de uma ave aprendiz.

ouça a voz que se cala:

um sonho é mais do que
o bater das asas de um
tão pequeno colibri.
são duas asas abertas,
a se tocarem de longe
nas pontas !
mesmo que contemplando
dolorosamente
os sanguinolentos salpiques
da flecha cravada no peito.

meus passos ensurdecem.
recolho os cacos do chão:
resquícios de sonhos
que nunca calam !

Maria
© Todos os direitos reservados