Acordes para uma Sonata

 
Eu que vim de um passado sem nome
defino a mulher em quatro formas: fada, deusa, menina e mulher,
deusa da praia
hino da primavera
retrato jovem
e acima de tudo uma canção !
Não sei nada de música
mas toco as cordas do coração.
Não sei nada de música
mas dedilho o instrumento da paz
e as notas difusas se espalham no ar
chocando-se na realidade
e nessa realidade a minha felicidade
tem apenas um nome: Janete.
Três sílabas.
Três notas.
Enfim os acordes para uma sonata!
Eu que vim de um passado sem nome
Não visto o terno das aparências
não tenho pedigree
da arte faço um artefato
onde plasmo a minha consciência
a minha militância nas hostes poéticas
nas esquinas e quebradas da vida.
E os sons se avolumam
miséria... fome... desamor.
Sempre os mesmos acordes que amaram a sonata
fantástica da vida!
 
Eu que vim de um passado sem nome
não tenho nome
apenas o pentagrama desenha o meu nome
e procuro descobrir em que clave estou
se desafinei
num sustenido inflacionário
ou bemol ideológico
apenas um som
a mais dentro da harmonia social
a construir os acordes para uma sonata!
Eu que vim de um passado sem nome
pelos dó-ré-mis da vida
procuro o maestro filosófico
que regerá a orquestra social
sem fome... miséria... desamor...
sabendo que o arranjo perfeito: igualdade-fraternidade
Será o leit-motiv dos acordes para uma sonata!
 
E assim quando pela fenda do tempo
Puder escapar o meu som de paz
Os ossos do verbo
O homem for mais humano
O dinheiro nada valer
Quero então poder emitir os acordes para uma sonata
Aí então a música será dançada e cantada por todos
 
Benedito – Letras (Corumbá)

 

benedito c.g.lima
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