Sabor Caramanchão

Não sou máquina de produzir poesia,
ou computador de pensar...
E nem meus versos são
pílulas para qualquer dor,
ou remédio para feridas de amor.
Mas são versos que falam com autenticidade
das vivências do meu sentir poético, ou não...
Vivido no cotidiano da minha,
e das vidas que tocam minha alma.

Não sou perfeita, e nem entendo
dos vestidos com que os poetas
cobrem os corpos de suas poesias.
Não gosto dessa forma quadrada e dura
com que os versos rimados andam,
nem da falta de gingado e molejo,
na dança com as palavras.
Minha poesia tem saias rodantes,
veste chapéu de palha,
trançada pela minha própria mão...
Faço-a com rendas, fitas e laços,
e costuro-lhe lantejoulas coloridas,
- douradas à luz do meu sol -,
com contas de pérolas que eu mesma dori.

Meus versos me causam surpresa,
por desconhecê-los antes de sair de mim,
e depois, não reconhecê-los,
como se de mim não tivessem saído.
É como fossem do "poeta da antiguidade",
cozidos no lirismo de sua ânsia febril,
no pensar poético de suas entranhas.
Por isso, não tenho tempo para
ater-me a métricas e sintaxes,
e outras "étricas" e "axes"...
E lá sei eu o que é isso,
ou entendo de coisas assim?

As asas do moinho dos meus versos, batem soltas,
mesclando a prosa com a poesia,
não se amarrando em postes e endereços,
nem aderindo à movimentos
que não entendo e não conheço.
As palavras que nascem de mim,
- mesmo maturadas no caldo do século 21 -,
são fruto temporão, tardio,
chegadas aos dois anos de vinte,
quando a vida já ia partindo,
fazendo um tempo fora de época...
E guardam ainda, o sabor caramanchão
das roseiras que galgavam
pelas pilastras e ombreiras das portas,
para depois caírem em apaixonantes serenatas,
do sobrado de um velho casarão....

Maria
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