quero a poesia
que me cala
em lágrimas
de apartes,
livre de etiquetas
e brumas de antolhos.
que dá nó no peito
e tudo pára...
mas, faz navegar
o espírito anum.

quero a poesia
que não diz,
mas, calada fala,
- apocalíptica e nua -,
com dois sentidos,
sem rumo certo.
dois caminhos,
sem ter nenhum.

uma poesia que baila,
faz barulho, estrala.
na alma ressoa,
muda, gritante.
como dois tambores,
vulcões enormes,
gigantes,
parecendo
somente um.

quero uma poesia onírica
que não se rende
à cela e à prisão,
que seja aurora
na hora do ângelus,
se anela de fogo
em águas barrelas,
pobre ou rica.
perfumada de aniz
ou, bodum...

quero a poesia assim:
saída de mim,
do meu abismo interior,
dos vãos do meu espírito
que se confunde com o teu.
sem lápides do dia,
revestida de tropo...
quero-a qual
mágica de palhaço,
sussurros de cabrum.

quero-a despida
das lingeries
que a moda calça,
sem o fardo das cercas,
que a amarram
em limites
que eu não construí.
e que seja sempre,
curiosa e traquinas,
como seu final,
sem rima.
tonta - sorri -,
de bebum.

quero a poesia
que seja tudo ou nada,
seja muito,
sendo sempre,
e pouca.
que seja tecida
de antanho,
num tempo
como hoje,
amanhã, ontem,
- estranho - .
quero-a anisete,
desvairada e louca !

Maria
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