CARMEN

12/02/2008 - 13:32 

 
Quando cheguei no final da linha eu pude finalmente abrir meus olhos e ver o que antes oculto morria em mim. Eu mesma!
Percebi o quanto havia percorrido e quando ainda tinha a conhecer.
Senti uma mansidão esmagadora e uma vontade voraz de ser quem eu era mais uma vez.
E de tudo de novo viver. Como se agora valesse mais a pena que antes.
Uma roda gigante descomplicada mostrou minha vida e as poucas escolhas que tive que fazer.
Mostrou o quando eu era imperfeita e quando ainda havia para conquistar.
Ousou me contar sobre o tempo. Como se isso importasse ainda...
O paraíso era logo ali e eu nunca busquei tocar. Tolices cotidianas...
Meu sorriso pequeno se abriu como a flor que jamais ousei cheirar e minha música mais uma vez tocou. Se eu pudesse escolher eu diria sim a você quando pareceu ser impossível dizer. Apenas dizer...
O ato mais descompromissado e preciso que não se findou. Viverei mais cem vidas para merecer este sim de você agora...
Diante deste fim ilusório eu me toco lentamente. Aperto-me em meus braços. Canto outro louco cântico. Aprecio o silencio...
Este eterno medo tornou-se necessário e preciso. Eis que a pouca morte é doce e sutil.
Se dissessem para escolher algumas palavras finais, ficaria quieta. No caso de um epitáfio, pediria que plantassem uma arvore sobre mim. Que meu corpo sirva de alimente a algo tão promissor e necessário a vida de quem fica.
E sem mais dramas e fins repousaria no eterno instante do momento.
Sem medos medianos e vontades contraditórias. Sem mais mais...
Seria uno e primo. Seria o que sempre fui. Carmen.
 
 
 

Carmen Locatelli
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