Aos poucos você foi morrendo.
No dia de antes daquele dia o coração já não bateu
O sentimento não existia, o vento soprou e tudo parou.
A vida já não era mais vida e o sofrimento já não era mais dor.
O que te fazia chorar já não existia mais
O amor que você tinha congelou com o frio do sopro do silêncio da tua voz.
Um simples momento de dor.
Voltaria toda aquela fita e veria aos poucos cuidadosamente sua morte novamente
De antes daquele dia.
O dia de antes foi cinza e eu te levei aquelas flores murchas e podres
Velei você como era merecido.
Assim enterrei você em um buraco qualquer contaminando toda a terra imunda onde você pisava!
Fez-me chorar!
Gritei em um silêncio infinito teu nome dentro do coração já enterrado.
Te queria de volta naquele momento. Sentimentos proibidos...
O que queria daquele antes de sempre?
Sinta-se mau, sinta-se morto.
Sinta-se um pouco de mim!
O corpo já não era mais o mesmo quando te dei as costas e voltei para o tempo que não se sabia quando nem onde.
Tudo agora morria. E eu já não era mais a mesma.
Enterrei meu coração com suas lembranças dentro, com todo o amor que tive e deixei que a tristeza levasse, para assim vagar sozinha com a dor.
Eu nunca te quis mal, nunca te menti e você nunca me acreditou.
Eu amei você enquanto estava viva.
E te levei flores podres, a lágrima correu imediatamente com o sangue de um enterro morto.
Naquele dia de antes.
Por que você quis que terminasse assim?
Por que você chamou sua morte dentro de mim?
Por que você me matou e roubou minha vida sendo que poderíamos caminhar juntos?
Não odiei você, mas me odiei.
Eu não chorava mais, não sentia mais, não sorria mais, não dormia, não comia e não fazia questão de fazer nada.
Não fazia questão de ter ninguém a não ser ele, o amor do silêncio inabalável, dono de toda a minha solidão...
E naquela noite nem as estrelas brilhavam e a lua se escondeu atrás das nuvens carregadas das chuvas de outros tempos.
Saberia que tudo acabaria ali, e você não estaria mais.
O vento soprava novamente no cemitério abandonado dos sonhos despejados ali.
Um vento frio, batendo em uma rocha escura...
Ninguém a tiraria dali, nem mesmo o vento.
O que doía era a dor de não ter.
Sinta-se morto, sinta-se um pouco de mim!
Sinta-se incapaz de realizar nada.
Sinta-se um nada e o seja...
Tente entender, tente me sentir agora.
Abra os olhos e veja o que é não ter coração.
Abra os olhos e veja o que você deixou.
Abra os olhos e volte para quem te enterrou.

*Anelise Lena*
© Todos os direitos reservados