Consolidação do medo

Nos camarins do medo
as modelos “de luxe” se pintam
e se vendem e se doam a esmo
ainda púbere, quase cedo.

Translúcidas e trêmulas de desassossego
de perderem os fleches, o contrato,
o sol, o desfile, o mercado
riquíssimo que as aguardam no emprego.

Nos canais do medo
os ratos da CIA roem e somem,
os homens seguem parelhos,
pela estrada do medo,
de dúvidas e ambigüidades, cheios.

Nos pensamentos dos homens, receio
de que haja horrendas imagens e ações de medo.
Uma incógnita nos olhos vermelhos
dos humanos: avanço ou retrocesso.

O sangue corre borbulhante
pelas vias e veias trêmulas de medo.
Em tardes horas da noite de segredo,
homens caminham ofegantes.

O mundo já não cabe
no cubículo do medo estagnante.
A trajetória de projéteis e sabres
irrompem retinas e sobrancelhas infantes.

As mulheres já não apagam as luzes da sala
de jantar e da varanda.
Meninos não mais saem pra passear
tampouco, meninas brincam de ciranda.

Cerraram-se os portões no Arpoador
e o medo, destemido, avança,
toma abruptamente o caule do amor
e o joga no mar da desesperança.

O medo alijou as relações humanas num canto
com tanto desespero e desencanto
que até dissipou a felicidade pela raiz.
E a humanidade órfã de paz, de coragem, peleja infeliz.

O medo à frente das grades
e da frágil carne, corrói
a coragem dos ricos, dos pobres, dos vates
e fere o corpo e ao coração dói.

A nenhum habitante concede alforria;
o medo da primeira idade resiste,
o medo na senil idade persiste
em se aglomerar aos medos de nossos dias.

As chamas da paz, apagadas
e a fumaça arde nos olhos descrentes.
As conseqüências do medo formuladas
na desintegração estúpida dos continentes.

O medo em conluio com esta pseudo-democracia
ergue muros em território alheio,
invade a estação, oblitera os passeios.

Apresenta-se-nos emotivo e nos manda beijos,
o medo imperialista, globalizado, capitalista com seus anseios;
e avança, invade, inventa, tortura; liberto, avoluma-se em claustrofobia.

Curitiba