A Lua e o Barquinho

Andei perdido sem horizontes e sem sinais,
Tive medo dos gritos e do silêncio demasiado,
Mas pude ver o luar sereno da ponta do cais,
Mesmo cego, triste e calado,
 
Já não sentia o que era tão esperado,
Nem mesmo notava o tempo passar,
Estava sozinho, na penumbra e molhado,
Das águas puras de certo mar
 
Tentei descobrir coisas sobre você
Fiz a sua luz ser meu reflexo,
Vi meu caminho aparecer,
Torto incorreto, sem nexo,
 
Avistei ao longe esperança,
Brilhando nas trevas que me cegava,
Do meu amor de criança,
A mulher que eu amava,
 
Era a visão cintilante,
De um mundo de menino,
Te ver tão radiante,
E imaginar meu destino,
 
Todos os dias contigo,
Num barquinho furado,
Feito de abrigo,
Eternamente apaixonados,
 
Pescando a nossa vida,
 
Mas não se preocupe,
Não morreremos afogados,
Nem mesmo num açude,
Já que estamos afastados,
 
Mas isso não me impede,
De continuar te amando,
E que eu te hospede,
No meu barquinho chorando,
 
Chorando todos os dias,
Tentando não me afogar,
Tentando não cair,
No fundo do mar,
 
Mas me feri gravemente,
E tive medo de viver,
Você estava ausente,
E não me deixou morrer,
 
Ficou instigando minhas lembranças,
Depositando fantasias,
Numa estória de crianças,
 
Não sou culpado por você,
Nem vou te procurar,
Lançando iscas sem te ver,
Talvez nem consiga mais te amar,
 
Não era grande, era pesado,
Não era bicudo, era obtuso,
Não se escondia, era mostrado,
Meu amor em desuso,
 
Isso me faz lembrar,
Que até mesmo já esqueci,
Da escuridão do fundo do mar,
E que vivo por ti,
 
Desagrego desejo do meu amor,
Liberto você entre golfinhos,
Para que vá onde for,
Sem lembrar-se de um menininho,
 
Seja feliz onde estiver,
Pois eu nunca serei,
Mesmo que eu quiser,
Nunca te esquecerei,
 
Já não basta chorar sozinho,
Agora você sempre chora comigo,
Eu sei, é o que eu estou sentindo,
 
Por que você é maior que o meu barquinho?
Sempre sonhei te levar,
Pra longe comigo velejar,
No nosso mundinho,
 
Agora te escuto...
 
Pára de chorar,
Já não suporto mais,
Suma, não vai me abalar,
Você não é minha e não vai me amar,
 
Meus sinais sumirão,
Nem deito pra dormir,
Não sonho com paixão,
Nem vou me conduzir,
 
Prefiro viver acordado,
Sem a esperança,
De ser condenado,
A viver como criança,
 
O que eu vejo não é real,
A aurora não existe,
Nem mesmo esse mundo irreal,
No qual vivo triste,
 
Me desespero e grito:
 
Diabos, então vá embora...
Deus, traga-a de volta,
Traga-a agora,
 
Eu me lembro do toque,
Eu me lembro do beijo,
Que me dava choque,
E que me dá desejo,
 
Eu vou te buscar,
Mesmo além do meu barquinho,
Que cuidei pra te amar,
 
Por isso não chore quando me encontrar,
Sorria, adoro seu sorriso,
E ele é que vai nos mostrar,
O Caminho do paraíso,
 
E então navegaremos sob a luz da lua,
Nos amando... Juntinhos,
Eu completamente na sua
E você curtindo meu barquinho.

adailton ferreira
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