De uns tempos para cá
a rua onde moro
tem recebido pessoas novas, diversas,
tanto no sentido cronológico do vocábulo
quanto na literalidade do domicílio.
Estes meus novos vizinhos
têm me deixado estupefato:
tanto pelo exarcebado cuidado com o acúmulo
de suas riquezas corpóreas
quanto pela pobreza de espírito.
Ambas, externadas na imponência dos muros elevados,
na indiferença dispensada
a nós, moradores antigos,
daquela rua quase familiar.
Estampada nos vidros de seus carros blindados,
a fobia da insegurança, alardeada.
A casa ladeada por moderníssimo circuito
interno de tv, cerca eletrônica e cão de guarda.
Meu filho de oito anos de idade
às vezes me indaga se estes nossos vizinhos
nos têm como bandidos de alta periculosidade
ou se tudo isso é pretexto para viverem sozinhos.
Se se levar em conta
que além de todos os artefatos de segurança
há, ainda, a redoma, a aldrava
e, no sentimento, uma vacuidade.
No final das contas
será que nesta vida confinada por excessiva vigilância
esta gente se abraça?
estes nossos vizinhos têm felicidade?
Curitiba
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