A FUGA

Acabo de conhecer a minha imagem
sinto que posso esconder tudo o que minto
minto para esconder minhas virtudes claras
quando durmo na madrugada do suicídio.

Tento aquecer-me neste travesseiro noturno
mas meu corpo incendeia como um atrito múltiplo
e num instante mais que despercebido
sonho com um futuro quase presente, indefinido.

Lembro-me porém que a fissura dissolve-me
e apsso a gabar-me em tamanha ingratidão
desfigurado e ainda um pouco indeciso
fujo do que acho que sentirei e do que agora sinto

Busco a fuga de uma cadeia interplanetária
dum ártico baldio ou do calor de Janeiro
sou tudo o que posso, nesta vida sedentária
quando fujo dos meus princípios, de corpo inteiro.

Abro caminho a novos rumos marítimos
nos quais viverei a afagar a lhaneza que nos cabe
seguindo os teus passos, conduzido aos teus ritmos
e seguir voando, impelido pelo vento que renasce