EU JÁ POSSO MORRER EM PAZ

EU JÁ POSSO MORRER EM PAZ

10/06/2009                                                                                                                                                                                                                                                                                 18:38

 
Ontem o primeiro fio de cabelo branco surgiu, minhas mãos ficaram velhas, minha memória não lembra mais seus traços. Meu ser evoluiu e minha alma se libertou; eu aprendi a me esquecer e já posso morrer em paz.
Hoje eu fiz outro amigo, disse a este que o amava, dei minha vida por um e já posso morrer em paz.
Aprendi a amarrar meus sapatos, consigo dominar meus medos, li a obra mais perfeita e escutei o som do universo. Entendi o plano da morte e já posso morrer em paz.
Ontem beijei de leve, beijei com tudo, beijei pra sempre... amei mais um homem imperfeito e amanhã amarei outro igual. Chorei de saudades do primeiro e este outro nem sei mais, posso ficar com os dois ou posso morrer em paz.
Briguei com Deus, comigo mesma e com a desigualdade. Imortalizei alguém... eu!
Sorri para uma criança, brinquei com outra, abençoei uma terceira e abençoei meus erros também. Fiz milagres por mim e presenciei os seus, fui sublime, humana, normal e já posso morrer em paz.
Senti o calor de minhas lágrimas, o peso de minhas palavras, o poder do meu silencio.
Fui amada e odiada e glorificada também. Repousei na sua cruz e senti seus medos em minhas mãos. Fui rainha, donzela, anciã, fui Carmen e já posso morrer em paz.
Seus olhos me observam de longe, de perto, de todos os ângulos... e apenas me observam. Você diz coisas belas, cheias e rasas, densas... você fala em amor, fala de mim. Sinto-me forte como uma muralha, presente como o desejo, precisa como ar, sua como devo ser e já posso viver em paz!

Carmen Locatelli
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