Sonho de Amor

Foi ao unir os pedaços,
restos e saldos de desfeitas ilusões
com umas tantas sobras
de muitos momentos cheios de encantos
que surgiu, como que alma oculta,
a intensa rotina do cotidiano.
Uma bela e sedutora fantasia
em toda a sua fascinação.
Renascida, como se fosse a mais esperada
de todas as promessas.
Imagem encantadora, semblante feminil
tingido de tantas luzes.
Botão de flor que desabrocha
de forma inesperada no jardim.
Vestida por translúcidos tecidos de mistério,
tingidos em tons de surpresa.
Plena de franqueza,
permitindo ver suas bem dotadas virtudes,
mas também os seus deslumbrados pecados,
os seus tolos vícios.
Uma epiderme fresca e bela,
porém deixando expor uma cicatriz.
Num jogo de sutilezas,
onde a beleza se enche de casualidade.
Um acidental olhar
que promete toda a serenidade perdida,
mas que oculta um coração em chamas,
uma silenciosa paixão.
Um fogo interno que faz arder
em rebelião os muitos sentimentos.
A possibilidade de um novo sonho
construído sobre os escombros.
Medo e coragem digladiam-se
na ânsia entre passado e futuro.
Um tesouro oculto, guardado em secreta caverna,
uma benvinda ilusão.
O risco da dor,
mas a vida querendo ser vivida,
desejando prosseguir.
Sempre haverá a probabilidade de tristeza
na conquista da felicidade.
E como evitar a tristeza,
se não há quem seja louco
de não desejar ser feliz?
Assim, deseja-se a chegada,
mas temem-se as pedras do caminho.
Assim, quer-se atingir o cume de montanha
sem as dores da escalada.
Dor e promessa parecem conviver
em íntimo pacto.
O realização parece ser sempre
doloroso parto de utópico ideal.
Não há como suprir o coração
apenas com sensata realidade.
Faz-se necessário uma boa dose de loucura,
de desejo de prazer,
como criança que encontra
o seu mais mágico brinquedo.
Sob os pés haverá sempre
o convite de um infernal abismo,
mas acima dos olhos
haverá o atrativo do céu e do horizonte.
Só ganha asas quem um dia
se arriscou à queda
e aprendeu a voar.
Nem tudo, porém, é coragem.
Nem tudo, porém, é medo.
Por que haveria
de ter uma sensatez toda perfeita?
Ou uma ilusão que em sua loucura
não tivesse um pouco de razão?
Então temos uma única certeza:
a da busca.
O resto é dúvida à espera de descoberta.
E nessas invisíveis linhas,
é por onde vaga fugitiva felicidade.