Madrugada corre solta
Pela fresta da janela.
A cama insone, hoje dorme
Quieta, sonhando, espera um corpo
Para justificar sua existência
Um resto de vida se aquieta
Um quinhão de morte acha que vive

De fora para dentro deste um
No peito o ar mais que invade
Machuca-me pelo ato de expandir
Algo ao menos experimenta dor...
Uma louca passagem surda de sons
É experimentada por um tal “não sou eu”
Apenas um substituto
Que entrou no segundo tempo
Do jogo da madrugada

Passo fome pesada
Por luta, suor e calor
Transformo isso em caldo
Desta minha mágoa
Viro direto do fogo à boca
De uma vasilha pesada.
Pode ser que o caldo afogue a sede...
Ou o calor marque a carne
Deste corpo que carrega essa vida estranha
Se todo o caldo cair
Ainda assim o chão aproveita mais
Que o desastrado vertedor
 
 
 
Gê Muniz

Gê Muniz
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