Assim Sou Eu...
 
 
Sou mais de 250 palavras, mas valho apenas uma: H O M E M.
 
Sustenta-me e me empurra para frente desvairado amor pela vida, ao lado de virtudes simplórias, comuns a todos os homens comuns.
 
Persigo tenazmente miragens de perfeição, busco horizontes de beleza, que se afastam quando me aproximo.
 
Recrio idéias a cada hora.
 
Procuro felicidades que me escapam, como se fosse água por entre os dedos sedentos, em pleno deserto.
 
Prossigo, ignorando os pingos d’água que a areia escaldante e insaciável bebeu por mim.
 
Contesto, repudiando o horóscopo, pois eu mesmo crio as constelações sob cujo signo teimo em renascer diariamente.
 
Tímido, mas franco.
 
Sério, mas sem ser carrancudo.
 
Interesseiro, sem ganâncias impossíveis, assim sou eu, carregando a vida, esse fardo que se recebe no berço, para entrega à domicílio, no cemitério, com ou sem a etiqueta de um epitáfio.
 
Remoendo emoções, vou correndo, tropeçando em alegrias e fatalidades, enquanto procuro tornar retos os caminhos curvos, onde há pedras que me ferem os pés.
 
Homem comum, resisto, até que o abismo do nada me devore.
 
No fundo desse abismo insondável, creio – com a crença pálida dos que ainda acreditam em alguma coisa – deve haver algo que me faça continuar a ser assim como eu sou.
 
Eu sou assim: imortal, nutrindo a tola ilusão de que nem todas as bibliotecas do mundo me podem caber.
 
Desencantado, concluo tristemente que posso caber dentro dos estreitos limites destas 250 palavras.
 
 
                          P.E              22/11/2008

Pedro Eustáquo
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