Reluz de teus olhos o encanto esverdeado do desejo
E esse coração arfante disfarça e zomba da morte
Beijando o ódio, se livrando rapidamente do amor
A ânsia me consome em drogas encantadas, louvadas
No subúrbio, abandonado sinto fome e frio
É o meu país meliante que mata, que rouba e engana,
E cheira a esse odor nojento da impunidade obesa
Sou o Zequinha daqui mesmo da redondeza
Que de vez em quando acerta o rumo deslumbrante do show
E se propaga também pelos refletores opacos da mediocridade
Nado em pedaços de lágrimas que rolam rio abaixo
E deságuo novamente no gueto escuro do meu cárcere
Onde ainda se fala poesia com sotaque de amor
Em devaneio grito, esperneio e sorrio,
Sorrio somente o necessário
Para que o sorriso não seja apenas um escancarar de boca
Boca que seduz, que assobia, que devora, que chupa, que beija
Boca que poeta, boca que encanta, boca que canta e não cala
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