Paradoxal ironia!

 

Veja a semente que cai
É a vida que vai
Em favor de si morrer
Da mãe deserta e sai
E seu fim por fim atrai
Do nada, o renascer.
 
Ciclo de idas e vindas
De belezas abscindas
Na senda da solidão
Vãs verdades findas,
Prenhes de vidas infindas
Confinadas num só grão
 
Veja a excitada palmeira
Que se dobra toda inteira
Ao cortejo do vento
Já cotejou erva rasteira
Antes foi bago sem eira
Jogado ao relento
 
E tu, turrão impaciente
Exiges que de repente
Caiam-te ás mãos os versos
De tanto distúrbio latente
Captado do som estridente
Em alaridos dispersos.
 
Peça que te venha
O abissal anular e te tenha
A um átomo reduzido
Nem te reste resenha
E na alma só contenha
O talento adormecido
 
Soberbo cepo de trovas
Cetim de muitas alcovas
Do húmus de ti brotará
Evite pedires provas
Desta vinha virá uvas novas
Novo mosto não tardará
 
Cruel dúvida embalo
Pra fazer tudo que falo
Do meu sal esvair sabor.
Far-me-ei do silencio o vassalo
Aos ruídos da razão me calo
No meu calar-se falará o Amor.
 
Manito O Nato