Sobe na rampa o foguete.
Mensageiro do abismo,
Traz consigo a solidão
De um mundo novo
E desde sempre agressivo.
Vai, a toda velocidade,
Em direção ao nada,
Ao grande vazio que engole
Galáxias prenhes e suas proles.

Pulsa forte e descontrolado
Meu coração aflito.
Ouvir tua voz ao telefone
Ainda me agita.
Corta por dentro a saudade,
Faca fina e pontiaguda,
A cega e absurda lâmina
Da tua ausência.

Lá em cima, no céu,
À distância e no passado,
Brilham imensos sóis.
Vorazes, que infernos
Estarão a consumi-los?
Que silêncios milenares,
Da profunda escuridão do nada
Torturam, trituram,
Com suas forças de esmagar,
De queimar por dentro?

Tua voz, agora solene e séria,
Ainda repercute
Em meu peito compungido.
Instâncias formais da separação,
Com suas cortinas de tristeza,
Seus véus de desesperança,
A marcar o compasso
E o ritmo desta relação.

Como compreender,
Tanto amor e desperdício?
Para que toda esta imensidão?
Que plano divino é esse,
Que isola estrelas,
Brilhando tristes, almas,
Na vasta desolação?

 

Uriel da Mata
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