Os deuses, se os há,
Estão confusos.
Como adivinhar
Por onde vamos?
Apreensivos,
Ficam a observar
O tortuoso caminho
Que tomamos.

Entristecidos se vão,
Porque partimos,
A distância aumenta
E não voltamos.
Pais sequiosos que são
Indagam, sofrem:
-Que será dos filhos
Que amamos?

Não há mais volta, agora que saímos,
Adolescente humanidade que tateia.
Ignoramos o que vemos e ouvimos,
Enredados neste mundo, nossa teia.
Brincamos desatentos e seguimos
Por tardes que a Noite já margeia.

E os deuses põem-se a pensar
Que será do porvir, do amanhã?
Terão coragem para sonhar
Uma nova alegria, ainda que vã?
Que é a de ter filhos e os amar
Para perde-los à vida e ao seu afã?

Deuses há ou deuses houve,
Porque freqüentemente deles precisamos,
Seja do obsequioso pai que nos ouve,
Seja da compadecida mãe que amamos,
Dada a oportunidade que nos aprouve.

 

Uriel da Mata
© Todos os direitos reservados