"Ao entardecer..."

"Ao entardecer..."

O vento entoava sua canção;
Às vezes suave...
Balançando as folhas do trigal,
que encenavam clássico bailado;
Por outras... rústica,
em ato de rebeldia
fazendo espatifar-se no ar, a poesia...
E as rimas se entrelaçarem pelo lusco-fusco,
chocando-se com as cores do crepúsculo...
E o verde-dourado-trigal, outrora angelical,
mudava seu tom, sua graduação,
transformando-se num camaleão...

Era o entardecer em rebelião...
Negando-se a dar passagem à noite...
Revoltando-se ante a escuridão
ameaçadora, extirpadora da empolgação,
agarrando-se aos últimos lampejos de sol,
tentando inibir a ida do arrebol...

Esquecera-se da luz da lua
que traz o prata, beleza nua,
das estrelas cintilantes
que inspiram os amantes...
Da alma que se acalma
e se entrega a essa paz,
quando a noite traz o luar...

E os pisca-piscas a estrelar..

 

E o trigal, quando anoitece,
cala, emudece...Silenciosa prece...
Exerce seu mais inusitado gesto...
Reverencia o fim do dia
curvando-se até o chão...
Coreografia única, ato final...
E aguarda a manhã,
com sua luz matinal!

     

             (Carmen Lúcia)