I. Coletividade

Eu sou o resultado da soma dos conhecimentos dos meus antepassados
E às vezes fico triste por isso,
Fico triste por saber que meu pensamento é coletivo
E vil. Meu vil pensamento é inconsciente;
É inconsciente coletivo.

Meus sonhos, esses sim, são meus,
Tão meus que jamais se concretizarão,
Mas é mister tê-los. É mister a minha sobrevivência.
Os sonhos devem ser maiores do que os homens,
Utópicos,
Um disparate ao alheio,
Mas um alívio ao próprio afã.

Eu sou o resultado da soma dos medos dos meus antepassados
E às vezes fico triste por isso,
Fico triste duma tristeza coletiva
Advinda dum medo coletivo
Quase imperceptível, quase inconsciente,
Mas ainda coletivo.

Meus medos, esses não são meus,
Residem em mim apenas
Pois é mister tê-los. Mister a minha sobrevivência.
Os medos devem ser menores do que os homens,
Ínfimos,
Imperceptíveis ao outro,
Mas um entrave a si próprio.

II. Questionamentos filosóficos

Será que tudo o que eu digo já foi dito?
Tudo o que penso, já foi pensado?
Sou único ou simples cópia da minha espécie?
Sou racional ou instintivamente social?
Pensando assim, filosoficamente, não chego à resposta alguma.
O não-pensar é, na verdade, toda resposta. É toda resposta do que é ânsia.
É preciso aceitar as coisas como elas são.
É a filosofia de Caeiro.

Mas o não-pensar não seria o não-viver?
Aceitar todas as coisas não seria conformismo?
A simplicidade de tudo não seria conveniência?
A metaficidade das coisas não seria necessária ao vazio humano?
Penso, reflito, questiono o inquestionável
E nunca, nunca chego à resposta alguma
Que me traga conforto de qualquer espécie.
Esta é minha pobre filosofia. 26/05/2008

III. Descompasso

Esse grande universo inexplorável que existe em cada um
Foi tudo o que busquei compreender
Em mim mesmo.
Mas toda tentativa de compreensão
Do que é subjetivo em sua essência
É em vão.

A espécie humana é a mais discrepante entre si
E isso é tudo o que nunca compreendi
Em mim mesmo.
Todos têm as mesmas vísceras,
A mesma dor, mesm’alegria
Em descompasso.

As diferenças nos afastam mais e mais
E mais e mais e muito mais.
Mas no final, meus amigos, somos todos iguais.

IV. O jardim

Tenho esperança em muitas coisas;
Tenho desejos, tenho planos, tenho fugas,
Tenho tudo o que preciso pra viver
Mas que não me trazem a felicidade em grau supremo;
Felicidade (hoje eu sei) não é suprema, não é inteira,
São fragmentos coloridos que se juntam
Em nossa mente; é ilusão divina
Necessária ao ato de viver.

Tenho certeza de muito pouca coisa;
Tenho amor, insegurança, tenho medo,
E tudo mais o que preciso pra sofrer;

E mesmo acreditando e descrendo em tanta coisa
Eu não cultivo jardins.

E lá fora, ao alcance dos meus olhos (mas não de minhas mãos)
O jardim da humanidade agoniza
Pela escassez de sonhos e desejos e ‘speranças; 30/05/2008

Tangara da Serra, MT, 05/08

Roger Servilha Pereira
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