Poeta não envelhece

Na pele da jovenzinha,
nas curvas tão bem talhadas,
mora uma doce velhinha
que se avista pela estrada...
vem curvada, a pobrezinha...
sem louvações dos amores,
vai encovada e calada...
Mora por trás da menina,
da mocinha e da senhora,
uma pálida velhinha...
Quem de nós percebe agora,
que ficaremos bem velhas,
arcadas e enrugadas?
Se as carnes pulam de espanto,
e corremos a esticá-las...
como ficam nossas almas,
jovens, calmas?
Que cismam ao fim do dia,
as senhorinhas cansadas?
Terão rendas pra fazer?
Saberão tecer bordados?
Saberão contar histórias?
Ou irão nadar, correr,
pedalar a bicicleta?
Quando todo encanto,
for da alma sempre e tanto,
flor desbotada, a murchar...
Se o tempo, na face magra,
encovada, muitas rugas, desenhar...
Que importa... se ainda tremendo...
um verso...
puder bordar.


ENI GONÇALVES

Eni Gonçalves
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