O BEM E O MAL
Um dia a gente nasce
Outro é o dia em que os olhos se abrem para o mundo
Tenho alguma lembrança desse despertar
Eu vi a luz intensa da infância
Senti o fogo da carne novinha em folha
Tive noção do bicho-vida correndo em meu corpo
A longa rua se encontrava com um rio
E o rio se encontrava com o mar
As águas engordando
Os meus olhos eram diamantes
Meus cabelos independentes
Assopravam bem para longe o vento das tempestades
Um dia voltariam raivosas
Eu caminhava saltando como as lavandeiras
Os braços eram asas de borboletas
Os dedos tocavam uma música angelical
Os pés navegavam
Barquinhos de sonhos nas areias da praia
Esticava-se o pensamento por sobre as espumas do oceano
Visitavam mundos inexistentes
Criavam fantasias
A comunhão com a terra
Inocente ciranda
A cidade se pôs frente a mim
Em fogo e paixão o mundo ardia
Em perfumes falsos e cores artificiais
Em flores e fitas de papel
Segredos do conhecimento me roubaram a fé
Disseram da existência do Bem e do Mal
Criaturas em doce sedução
Insatisfações e volúpias
Boa palavra é volúpia
Encho a boca e a alma de volúpias
E inconseqüências tantas
Largadas ao pé da porta
Feridas expostas
A rua imunda e torta
O retrato amarrotado
Arranca meus cabelos
Carrega a luz dos meus olhos
A minha face desfigura
A humanidade satisfeita
Perante a criança morta

Tânia Meneses

Tânia Maria da C. Meneses Silva
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