
Cada traço do artista
Doa a santa verdade
De uma alma contida.
Doa contra a vontade
De uma boca cativa,
Do pavor que habita o seu coração.
Verdade que peita o servo polido,
O pai, o marido, o lorde bretão.
Pavor que desarma o bravo sedento,
Estanca o tormento da intuição.
Cada traço do artista
Descortina a bondade
De uma alma mestiça.
Lava a mediocridade
De uma ira postiça,
Do rancor que atiça o seu coração.
Bondade que peita o ar de felino,
A lei, o castigo, o mestre turrão.
Rancor que pragueja seu gênio delgado,
Detrata o arado da percepção.
Cada traço do artista
Desamarra o desejo
De uma alma infinda.
Desafia o sentido
De uma vida prescrita,
Do torpor que sopita o seu coração.
Desejo que peita a desesperança,
O fim, o tropeço, o ermo chorão.
Torpor que minora sabores divinos,
Converte, em cretinos, fiéis da paixão.
O artista voa.
Quando traça, voa
Tanto, que ressoa
E nem é mais pessoa.
Abel Puro, em 2007.
Cantou pra mim...
"Eu vi muitos cabelos brancos na fronte do artista. O tempo não pára e no entanto ele nunca envelhece. Aquele que conhece o jogo, o jogo das coisas que são. É o sol, é o tempo, é a estrada, é o pé e é o chão."(Caetano Veloso)Na foto, Marcia e Abel.
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